Talvez seja o
tempo um quebra-cabeças. Um caos que espera alguma mão que seja capaz de colocá-lo
em ordem.
Talvez a ordem
do tempo fuja ao claro entendimento, atenta apenas às lembranças e suas fomes. E
as lembranças são famintas demais. Devoradoras. Até ladras.
Quando muito
fortes, roubam o tal tempo-presente, prendendo um desavisado qualquer naquela
impressão de felicidade eterna.
Quando já são
só sombras, as lembranças penumbradas roubam mais que o presente aberto no
hoje. Roubam o que ainda está pra ser aberto, porque prendem as horas no
amanhecer que nunca vem, junto com as prometidas passagens de ida para o tempo-que-já-foi-bom.
E o tempo
continua ali, em constante movimento, em constante ida, sendo cores muito
vivas, aclaradas, ou já desbotadas, só fazendo sentido para quem já sofreu de
sonhos e não desistiu.
O tempo segue
seu caminho, desordem anunciada, enfeitada de lógica, mas eu sei bem: ele não
faz esforço para ficar. Escorre livre pelos dedos.
E distraio-me
colecionando seus feitos. Essas pequenas peças-momento que chamo de vida. Minha
vida, meu tempo sob o céu.
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