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segunda-feira, 11 de julho de 2016

Guia







Depois do vinho o mundo cabe em um gole. Torna-se exatamente do tamanho da borda da taça, preso ali pelas beiras (que quase ninguém consegue se equilibrar). Fluido como o sangue que acalma-se.
Depois do vinho o mundo cabe em uma folha de papel e é delineado pelos contornos sutis da palavra escolhida entre tantas daquele turbilhão que a cabeça se transforma todos os dias.
Depois do vinho acabo sofrendo de certezas. E uma delas é a de que todo poeta é eterno, sejam seus versos lidos ou não, porque antes de tudo é um libertador. E a rima alforriada voa e a sorte é mesmo de quem ela escolhe pra pousar e fazer seu ninho.
Depois do vinho a noite não é mais tão escura. O silêncio não é mais tão assustador ou escandaloso ou ensurdecedor. Nenhuma melodia fica muda porque até as paredes se transformam em ouvintes e confidentes.
Depois do vinho, asas. E cabem nas palmas de minhas mãos tantas histórias quanto posso contar. Quantos poemas quanto posso recitar. Quantos sonhos quanto posso sonhar de olhos abertos. E, para que nada se perca, durmo. Porque é no reino noturno, em sono profundo, que guardo esses e outros segredos, bem atrás da porta secreta, da passagem mágica que, por vezes, chamo taça. O vinho, meu guia.   

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