Depois do
vinho o mundo cabe em um gole. Torna-se exatamente do tamanho da borda da taça,
preso ali pelas beiras (que quase ninguém consegue se equilibrar). Fluido como
o sangue que acalma-se.
Depois do
vinho o mundo cabe em uma folha de papel e é delineado pelos contornos sutis da
palavra escolhida entre tantas daquele turbilhão que a cabeça se transforma
todos os dias.
Depois do
vinho acabo sofrendo de certezas. E uma delas é a de que todo poeta é eterno,
sejam seus versos lidos ou não, porque antes de tudo é um libertador. E a rima
alforriada voa e a sorte é mesmo de quem ela escolhe pra pousar e fazer seu
ninho.
Depois do
vinho a noite não é mais tão escura. O silêncio não é mais tão assustador ou
escandaloso ou ensurdecedor. Nenhuma melodia fica muda porque até as paredes se
transformam em ouvintes e confidentes.
Depois
do vinho, asas. E cabem nas palmas de minhas mãos tantas histórias quanto posso
contar. Quantos poemas quanto posso recitar. Quantos sonhos quanto posso sonhar
de olhos abertos. E, para que nada se perca, durmo. Porque é no reino noturno,
em sono profundo, que guardo esses e outros segredos, bem atrás da porta
secreta, da passagem mágica que, por vezes, chamo taça. O vinho, meu guia.
0 Comentários:
Postar um comentário