Chega de meras
formalidades sociais. Basta de tantos protocolos. A mim, interessam as
espontaneidades. Ou oferece-me o que se tem de melhor, os sorrisos e as
conversas sem rumo, ou não interrompa meus silêncios.
Quanto aos seus
silêncios, colecione-os como quiser ou como puder: cada um que se aguente, que
tolere as próprias manias, mas não queira estender a mim as práticas típicas de
repartições monótonas. Não tenho vocação para nada do que é repetitivo.
Se as palavras
que foram pensadas e levadas à ponta da língua não se adaptam aos olhos nos
olhos, e são engolidas à seco, que nem se atrevam ao toque da ponta dos dedos. Meus
ouvidos não interpretam o som sem ritmo das teclas que pautam as conversas de
hoje. E meus olhos não distinguem muito bem as nuances que poderiam ser
ouvidas.
Tenho problemas
de adequação a essa preguiça que assola seus dias e impede cafés e cheiros. Ainda
prefiro as correrias de abraços furtivos e beijos roubados, displicentes, mas
presentes. Perpétuos lampejos na memória de quem sabe o que quer ou
descobriu-se no meio do caminho.
Defendo-me
dessa carranca que não vejo, mas pressinto, que acompanha aquele típico “a
gente se vê” que nunca se permite acontecer. Uso um patuá infalível para esses
maus agouros em forma de pressa: chama-se compromisso. Ouso marcar e cumprir,
espantando toda a sorte de azar-o-de-quem-não-veio. Tenho palavra.
Gosto da
palavra como se ela fosse parte minha. Extensão minha. Documento meu. Mais sagrados
que o Livro. Honraria de maior grau que não distribuo gratuitamente por
reconhecer o seu valor, que resgato quando a lanço refém de meus desejos e
promessas.
Afasto-me de
ataques de cinismos e ironias pobres, fantasiadas como pierrô entristecido. Sou,
ao contrário, a Colombina brincalhona que se diverte com outras figuras – de linguagens
– e escorrega nas entrelinhas tão claras quanto suas assertivas.
Cansa-me toda
essa embromação contemporânea dos desinteresses nossos de cada dia. Prefiro, a
despeito desse enrolo, desfiar minhas horas com a poesia. Ganho mais, cultivo
harmonia.
A quem não
sabe dizer um não ou cala sem certeza, lamento os momentos de recaídas. Não bastarão.
Não soarão diferentes do que são: meros protocolos das vontades não sabidas,
escondidas, contidas, mal resolvidas ou inventadas. Nenhuma intervenção as
salvará. Nenhum meio de campo mudará aquela primeira impressão mecânica que se
fez.
Teço paciência
com fios de silêncio só até quando me convém. E, convenhamos, o tic-tac do relógio
cobra a sua conta muito mais rápido do que parece e logo o tal silêncio vira tédio
e a paciência se esvai.
Felizmente
tenho rompantes de euforia que espantam toda a monotonia e me relembram que não
gosto dos protocolos. E os devolvo a você, no mesmo endereço, para não errar o
destinatário. Que se procure outra repartição. Aqui comigo nada é repartido. Tudo
é por inteiro.
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