Quando a noite caia e a bela morena adentrava no quarto do sultão, não
eram as suas madeixas os fios que mais prendiam o homem. Eram as teias de suas
palavras que o envolviam o deixavam imóvel.
Ela, aranha, cuidadosamente o deixava emaranhado em tantas histórias
quanto podia. Histórias fantásticas, mas também outras tantas comuns, que se
entrelaçavam.
Sherazade ganhava a cada noite mais um dia, a cada respiração um novo
suspiro porque apresentava ao seu sultão fios que não se desprendiam. Ao
contrário se ligavam e religavam e dificilmente se sabia onde teriam começado.
Somos todos Sherazades.
Somos todos um composto de mil histórias sem fim entrelaçadas, pulsando
em nós, latejando em nossas veias.
Sinto cada parágrafo do livro da vida, cada capítulo se abrindo,
trazendo novos e interessantes personagens, em paisagens já vistas ou nunca
imaginadas.
A cada novo dia, novas histórias se cruzam, novos olhares são
construídos e torno-me mais e mais não só a contadora de histórias que queria
ser na infância, a princesa dos castelos cercado por jardins e desertos, mas na
personagem de histórias reais, cuidadosamente vividas e apreendidas.
Para todo bom capítulo, um ou outro parágrafo mal escrito, mal
interpretado, mas compreendido, tempestades de areia passageiras que
fortalecem.
Os capítulos ruins não são os últimos.
As histórias nunca se acabam.
Como a moça das histórias, fico presa às teias de Clio, aos fios das
Moiras e ao caminho que traço e refaço.
Como nos contos das mil e uma noites, protagonizamos muito mais de mil
histórias sem fim em nossas vidas. Somos muitas histórias dentro de uma só. E não
me cai bem encerrar-me em uma única capa. Sou histórias que escritas em folhas
livres voam com o vento, ávidas por serem acolhidas e lidas.
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