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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Aspirações





Quisera eu que não soubesse só os nomes de tantas cores que saltam das pontas dos lápis e colorem as flores.
Em dias como hoje encheria as minhas mãos de um azul-céu ou mar ou vento e jogaria no rosto, pra lavar a alma, para despertar o sossego que esqueceu meu endereço.
De tudo eu faria para parar de uma vez com meus esquecimentos e minhas pirraças, minhas brigas com as sombras nos finais de tarde, minhas inquietações das madrugadas, minhas agonias quase multicoloridas de tão vivas e um tanto sufocantes.
Eu mesma pararia com as tentativas de me convencer que a calmaria passou e que as tempestades extrapolam os copos d’água. Aceitaria de uma vez por toda beber as transparências de minhas teimosias para sorrir flores com cheiro de algodão-doce.
Os problemas são os dias. São todos os amanheceres pelos quais escorrego os olhos cansados de não dormir, exaustos de procurar um não-sei-o-quê intraduzível, inexplicável.
Os problemas são os meus porquês colecionados pelos anos, as interrogações enfileiradas à espera de respostas que não tenho e nem sei mais se quero ter. Talvez eu prefira mesmo só anoitecer e sentir a brisa que vem do lado de onde o vento faz uma curva tão leve que nem balança folha. Talvez eu goste mesmo é da sensação de se cantar de olhos fechados, fazendo noite em pleno meio-dia, envolvendo-me com uma nova música, desvendando uma nova melodia.
Pode ser falta de música, falta de verso, de rima, de nexo. Pode ser só um frio com pouca coberta, desses que passa logo que adormecer, logo que o corpo esquecer que existe, entregue na semimorte que é o sono.
Pode ser só o gosto do tempo que deseja parar, mas segue adiante, que custa caro. Custa vida, dor e alegrias. E cobra a conta no final, em balança dourada e fio de espada em salão nobre, feito feriado cívico. É espetáculo público a cobrança e a sentença é sabida antes por todos. É fim conhecido antes do começo. É fim.
Quisera eu entender o que eu não sei. E são tantas as coisas. E são tantas as buscas. E são tantos vazios que não se preenchem. E que sempre se renovam... quisera eu, num impulso, parar o ponteiro que gira incansável e descansar sem ter pressa. Quisera eu saber onde vou passar, já que sei bem onde é que vou chegar.

Isso de se buscar sem parar, deve ser a tal vontade de viver. A tal da vida que não te deixa em paz, porque ensinou a questionar e não a aceitar. Deve ser isso que chamam de caminho. Porque o resto, daqui onde estou, só parece paisagem. E segue.

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