Visitas da Dy

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Vigília


Mesmo na penumbra, velo seu sono.
Meus olhos percorrem toda a sua linha,
Traçando a cartografia do seu descanso.
Repousa e sonha como criança delicada.
A leveza de seu suspiro noturno me inunda.
Ao seu lado, sinto-me Tântalo:
Está ao tácito toque de meus dedos
E não ouso, recuo.
Está olvido no veludo da madrugada
E meu silêncio lhe embala e nina.
O espaço de minha cama fez-se em mar:
Eu lhe vejo navegando em meus lençóis.
Na imensidão desse azul que flutua.
Avisto-lhe, ilha paradisíaca, e desejo aportar:
Virei eu embarcação à deriva e você, oceano infindável.
Mas bem sei que não é o meu cais,
Bem sei que não matará a minha sede.
Bem sei que não saciará a fome de meus olhos,
Tão pouco será o destino de meus pés.
Velo o seu sono por lealdade jurada.
Guardo a sua serenidade com a minha paz
E deixo a minh’alma atarantada.
Seu sossego vale mais do que o toque.
Seu descanso é mais sagrado que o Livro.
Deito-lhe em meu altar, cama segura
E contemplo-lhe o sono, oblação abençoada.
Talvez eu me sacie com o orvalho que umedece sua fronte
Talvez eu me entorpeça com um madrigal,
Mas ainda assim, não despertarei o seu sonho
Nem lhe atordoarei o coração.
Durma, durma agora, que lhe quero muito bem. 

0 Comentários:

Postar um comentário