Se fosse
resolver não diria só pra você das minhas agonias. Diria ao mundo.
Se adiantasse
confessar ao vento tudo aquilo que me vem na alma a cada momento, as soluções
brotariam como gotas de orvalho nas folhas pela manhã.
E se eu
pudesse, não sem dores, expor à toda prova de julgamento tudo aquilo que penso,
não seria a mais infeliz das pessoas, nem a mais feliz, mas alguém que
buscaria, acima de tudo, ouvir. Bons conselhos não são dados. São levemente
salpicados em entrelinhas e muitas vezes os percebo, os ouço e não os sigo.
Se eu pudesse
pesar e medir todas as coisas que tenho feito e se pudesse apagar tudo e
começar de novo, talvez eu não mudaria nada. Não o que já foi. Mudaria uma ou
outra vírgula na ponta da língua a partir de agora, pra ver se seria possível, começar
a escrever um outro volume com mais muitas histórias que se entrelaçam, que
param em pontos e vírgulas, que se cortam e estremecem com reticências, mas que
nunca chegam a findar num ponto final.
Não gosto de
ponto final. Não gosto de final. Gosto de continuidades com uma dose moderada
de nostalgia e uma boa dose do que é novo, por mais que eu tema o que é novo,
porque respirar novos ares é sempre a melhor solução para qualquer pessoa.
Gosto de
pensar na ideia de que tenho um novo livro em branco para começar a escrever e
de que nele poderei deixar pelo chão uma série de angústias, para abrir novos
capítulos estruturados em prosas mais coloridas e com um pouco mais de sentido.
Talvez até um pouco de poesia.
Gosto da
possibilidade de criar novas possibilidades e de saber que poderei contar com
mãos amigas me ajudando nesse caminhar, o que faz com que minha história seja
escrita por minhas mãos e pelas mãos deles, uma obra feita a muitas mãos e,
portanto, com mais calor, pra espantar esse frio que gela lá fora tudo o que
não está sob o meu cobertor.
Gosto dos
convites para um café, onde poderei colocar minhas cartas na mesa, minhas
tormentas diluídas entre chás e açúcares e mastigadas com biscoitos e pães e companhias
compreensivas que me dão suporte e segurança e riem meu riso e consolam meus
prantos.
Se pudesse
desfazer-me de todas essas agonias começaria a escrever esse novo livro da vida
agora. O livro dos meus dias teria um novo capítulo, mas como ainda as carrego
e como vou me desfazendo delas aos poucos, vou apontando os lápis e reunindo as
persona(gens) que estarão ao meu lado e, então, começarei. Não no meu tempo,
mas no tempo em que as próprias páginas desejarem.
11 Comentários:
Mais uma vez o blog está com problemas para receber comentários, mas a partir desse texto deu-se uma conversa entre eu e Isaias, via facebook, que é mais uma daquelas que eu não gostaria de perder o que foi dito, então, publico aqui todos os comentários feitos por nós nessa noite, logo depois de eu ter publicado "Agonia".
Isaias Souza
Pensando com meus botões outro dia, juro que refleti sobre isso. Sabe Dy, mudança é relativo. Se eu pudesse voltar ao passado, eu mudaria diversas vírgulas e colocaria mais reticências (um dos símbolos da minha vida hoje) e mais pontos e vírgula, ao invés de tantos pontos isolados. Mas será que mesmo mudando, as pessoas mudariam o modo de agir conosco? Mexeriam nas próprias vírgulas? Não sei. Pois só quando o passado volta folheado nas páginas do seu livro pessoal, é que você o lê de forma diferente. Aí olha para os mesmos personagens hoje e vê que você pode escrever a sua vida diferente, da maneira que for, que as pessoas vão ler e entender o seu texto da forma que quiserem. Creio que tenhamos modos semelhantes de encarar algumas situações e fases. Meu livro anda com uma escrita "surrealista" demais. Porém em pouco tempo voltarei algumas páginas e verei alguns escorregões no português, mas que aperfeiçoaram a minha escrita.
Dy Eiterer
o problema, Isaias Souza, é que ao longo do seu livro as pessoas viciam no seu jeito de escrita e passam a "adivinhar" o que está por vir. somos responsáveis sempre pelo que escrevemos e não pelo que o outro entende ou pensa a nosso respeito. é essa a parte que mais me fascina e que mais me amedronta: me fascina pela diferença, pelos pontos de vista que podem nos fazer crescer, nos enxergar com outras lentes e até mudar... o que temo é que em alguns casos as pessoas usam lentes muito ampliadas para nos olhar e muito reduzidas para si mesmo, o que nos tornam cruéis com elas, enterras em uma eterna selfpitty... nesse momento estou dando uma olhada nas leituras que as pessoas têm feito de mim... não que eu me importe tanto isso, mas vejo que as leituras das pessoas que se preocupam comigo têm, sim, muita importância e algumas mudanças precisam ser feitas... é hora de por um ponto e vírgula no meu texto...
Isaias Souza Confesso que tenho utilizado algumas reticências. Quando você escreve pedaços não comunicantes de texto, há que se deixar em aberto para uma tentativa de encaixe (ou não) mais tarde. Mas o ponto e vírgula resolveria metade do meu passado. Isso eu te garanto.
Dy Eiterer
então use-o, querido!
tenho refletido muito sobre algumas coisas e se eu tivesse rompido o silencio constrangedor de pelo menos três reticências minha vida poderia estar diferente.
não tive coragem, escondi-me entre os três pontos e fui expectadora de minha vida... tenho agora longos parágrafos de distância no lugar em que gostaria de ver períodos compostos por uma caminhada com seus altos e baixos, mas com muito mais momentos de felicidade...
acredite, reescrever essa parte tentando dar um jeito nas reticências está mais difícil do que se fosse um ponto final...
se precisar, estou aqui pra ajuda-lo, sempre!
Isaias Souza
Ah não! Mas as reticências são recentes e necessárias. As outras conclusões já foram escritas! Por isso eu disse que os erros me ajudaram a escrever melhor, coisa que não tenho enxergado pelas minhas andanças. Mas é bom contar com você. Na verdade, eu sei onde gritar quando meu sapato apertar o calo do pé, rs! E é recíproco.
Dy Eiterer
você é maravilhoso!
infelizmente esse é aquele momento em que só eu posso dar rumo na história, para que outras muitas mãos se ajuntem e venham colaborar, mas sei bem onde posso me apoiar! e isso me dá muita força, especialmente nas horas me que penso em desistir de tudo.
como eu já disse, não tenho amigos, tenho joias raríssimas!
Isaias Souza
Que ÓTIMO que você reconhece onde procurar se precisar. É bom ser tratado por joia, enquanto alguns o tratam como bijuteria de quinta categoria. Valorizo isso, tenha certeza!
Dy Eiterer Oh, zazá!
aquele final de fevereiro de 2011, onde tive que fazer as malas e vir pro rio talvez abriu um dos meus momentos mais difíceis, mais dolorosos.
deixar pra trás a família e os olhos azuis esverdeados mais lindos do mundo que eu mesmo coloquei no mundo foi muito dorido, mas não em menor dimensão foi eu deixar conscientemente o meu ninho e a companhia dos amigos que tanto amo e que corria o risco de não ve-los mais.
já esperava a correria da vida no rio, mas pensei que os laços fossem se romper pela distância e isso me fez chorar muito.
minhas madrugadas foram longas e encharcadas de lágrimas, de saudade, de um sentimento de perda enorme, que só veio a ser dissipada quando voltei à cidade e os reencontrei.
sou orgulhosa dos meus amigos e, por eles serem poucos, são muito amados e não tenho o menos receio de dizer o quanto os amo... e eu amo você! companhia de lutas, de conselhos, de madrugadas, de festas, de conversas que me acalmam e abrem os olhos como essa!
Isaias Souza
Nossa Dy, que bom receber esse carinho. São pessoas como você que eu quero perto de mim. Quem magoa, não enxerga nada de bom, me cobra por erros cometidos e já remediados, não dá mais. Por melhor que você possa tratar as pessoas, sempre haverão os que te adulam pela frente e te apunhalam pelas costas.
Dy Eiterer
é, meu caro!
acaba de descobrir a roda novamente!
Infelizmente algumas pessoas são assim... não se contentam com o passar do rio e insistem em tentar fazer as águas voltarem, não sabem que o rio nunca é o mesmo e nem somos os mesmos... quanto as punhaladas, são dolorosas, sim, sei bem disso, mas acabam nos ensinando algumas coisas, nos dão bons exemplos do que não queremos mais pra nossas vidas.
cresci muito no último mês. muita coisa aconteceu coisas que eu jamais esperava e que me apontam caminhos diferentes... essas coisas são engraçadas.
a máxima: "aprendemos com nossos erros" é uma verdade, não absoluta, sabemos bem disso, mas faz valer seu conselho!
Tomara que essas pessoas que lhe perderam tenham lhe ensinado alguma coisa boa. tomara que reconheçam a pessoa maravilhosa que perderam só porque não souberam ver as situações com outros olhos... que omelhor aconteça na vida de todos!
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