Já era dia,
mas ninguém parecia perceber
A criança já
não se sentia infantil:
Acostumada a
ser um adulto em miniatura.
Não havia
distância,
Tudo estava há
um clique:
O livro, o
jogo, a pizza
E o mais
triste: o amigo.
Aquele que se
senta ao seu lado
Já não esboça
sorriso.
Só sabe se
expressar pelos dedos
E rapidamente,
ao raiar o dia,
Com destreza
lhe envia:
J
Isso, sim, é
sorriso de bom dia!
Aqueles olhos
que deveriam buscar o futuro
Acostumam-se
com as paredes de seus próprios mundos
O blindex da
janela do décimo quinto andar os protege.
Lá em baixo
não existe.
É tudo faz de
conta:
Faz de conta
que não há pobreza,
Faz de conta
que o céu é sempre azul,
E a vida um
mar de rosas douradas.
Só que esqueceram
de te contar dos espinhos.
E esse vão te
ferir a carne tão logo precise descer de seu pedestal.
A vida,
querido, é pra ser vivida de verdade,
Longe da sua
versão digital
Andar de
ônibus não mata, só demora, tira a paciência.
Sentir o calor
de 35ºC longe de um ar condicionado é bom:
Faz sentir a
pele arder, como deveria arder o coração.
Fastfood é
enrolação: bom mesmo é cachorro-quente da esquina.
Aprende,
criança, seu castelo é que é de faz de conta.
Logo a vida
vem pra lhe acertar as contas.
Abra os olhos
e pensa: o mundo gira,
Gira-mundo,
girassol e gira a roda:
Daqui a pouco
vai ter que passear aqui do lado de fora.
Abra os olhos,
criança, ver o diferente é necessário.
Ser diferente
é ter coragem,
Viver numa
redoma é que é triste.
Vem pra cá
aprender a ser gente,
A sentir como
gente,
Vem mudar seu
olhar e, quem sabe, o mundo!?
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