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domingo, 15 de março de 2015

A Conta da Saudade



Foi bem assim, desse jeito. Depois de um dia daqueles, uma briga descabida, amontoados de ofensas e doses cavalares de álcool, que iam desde as notas mais sutis do perfume ainda entranhado na roupa – resquícios do último abraço bem dado – até a última gota da garrafa de bebida.
Na mesa do bar, três cadeiras vazias, um corpo exausto, olhos inchados e um coração tão oco quanto gelado. Ecos absurdos, confusos, atordoantes enchiam os ouvidos.
Palavras soltas entravam e não saiam de dentro da cabeça. Eram nomes, sentimentos, emaranhados, molduras, cores, datas, tonteiras e mais uma dose.
No final de uma noite completamente turbulenta não restava mais do que um corpo ébrio, desequilibrado, caindo pelas tabelas, pouco consciente, com palavras que seriam indizíveis, seja por seu caráter confidencial, seja por não terem nenhum significado nos léxicos que fosse capaz de traduzir os sentimentos existentes, que eram tão sólidos e indivizíveis.

Pagar a conta do bar foi fácil. O difícil era arcar com a conta da saudade. Essa, nem com todos os versos que conhecia ou que faria conseguiria quitar. Há, no fundo, um grande saldo devedor em todos os corações e os juros são apertados. Feliz de quem mantém seu carnê em dia.

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