Visitas da Dy

terça-feira, 31 de março de 2015

Admiração



Parou para admirar o belo
E deu-se conta de que tudo o é.
Não há o que questionar,
Não há o que querer mudar:
Tudo é.
É simples, singelo, divino.
Olho o belo, vejo Deus
Encontro-me nos silêncios
E completo-me nas curvas dos sorrisos.
Que a dança da vida não pare
Porque preciso dela para respirar!



domingo, 29 de março de 2015

Esquinas



Visitou tantas esquinas quanto pode
Em cada cidade, um mundo.
Perdia-se em cada uma delas
E encontrava-se um pouco
Em cada perdição.
Errava com passos desprendidos
Errava no melhor sentido:
Era. Existia. Encontrava,
Sem nunca ter procurado.
(Podia, então, dizer que era encontrada!)
Caminhadas livres de rotinas,
Mapas não consultados,
Limites e fronteiras confundidos,
Deixava-se levar pelo fluxo:
Do rio ou do vento,
No afluxo das estações,
Do sangue azul da terra
No embalo das emoções,
Do sangue quente das veias.
De amores carnavalescos
À cinzas invernais,
Aprendeu a rir sonoridades,
Semear serenidades,
Gritar euforias,
Desfazer-se em alegrias
E a seguir caminhante.
Desviou de carros e pessoas apressados,
De pingos de chuvas e ventos frios.
Descansou em feriados
E descobriu que as esquinas são mágicas:

Guardam novidade em suas dobras!

quarta-feira, 25 de março de 2015

Apostas



Todas as vontades e quereres,
Todos os pensamentos e divagações
Serão sepultados nas ruínas das horas,
Falecidos nas tonturas que surgiram
De tantos olhares de flecha
Que me fizeram alvo
Se não houver o mínimo de ousadia.
Todo lugar no mundo será estreito ou largo,
Nunca na medida,
Se não houver o esforço em molda-lo.
No fim das contas a coragem é que é o preço.
Não paga quem quer, mas quem pode.
Quem tem cacife de se bancar e arriscar tudo,
Inclusive de quebrar a banca.
Viver requer gastar as fichas.

É preciso apostar.

terça-feira, 24 de março de 2015

Nada Tive



O sol já vai se esconder
O verão, findo, nada de novo me trouxe.
As novas cores usarei nas poesias,
Nos versos em que entardeço.
Nas manhãs que me acordam
Desperto um alaranjado diverso de possibilidades.
Nos mares que me azulam a alma
Recebi alguns presentes:
Com o mar veio um verbo (ou dois)
Além das conchas que não contei.
Pela janela, há mar
E com ele, nada tive
Em seu tempo não aprendi a conjugar
Quem sabe o outono não me ensine
Como é mesmo que se deve

A-cor-dar?

segunda-feira, 23 de março de 2015

Parada




O tempo para?
Se-pa-ra
Separa pessoas
Separa histórias
E, se para, estagno
Não respiro
O coração para!
O tempo separa!
Eu paro,
Ele passa,
Nós ficamos
            Entre o tic...
                        O tac...
                                    O vão...
            Contemplo o tempo
Parada




domingo, 22 de março de 2015

Esquecimentos




Saltarei do chão ao céu
Queimarei a noite
E toda a raiva, a mágoa, todo papel
Com esboços, planos, as dores de açoites.
Construirei asas de cera
Que me jogarão ao mar
Em uma queda esperada
(Aquele mar de verde-alface
Que beberei gota a gota como se só ele me bastasse)
Fecharei a boca, os olhos e o corpo
Como livro lido e guardado
Decorado
(Porque já está no coração
Ou
Porque enfeitei-o com minha própria mão)
Esquecerei minhas histórias
Esquecerei-me nos cantos das páginas
Aos poucos perderei o perfume
Aos poucos serei só manchas amareladas
Sussurros em olvido
De ouvidos não acostumados às poesias
Desconhecerei tudo o que escrevi
Tudo o que sonhei
E assim, desconhecerei o mundo,

Esse vasto e cansativo mundo.

domingo, 15 de março de 2015

A Conta da Saudade



Foi bem assim, desse jeito. Depois de um dia daqueles, uma briga descabida, amontoados de ofensas e doses cavalares de álcool, que iam desde as notas mais sutis do perfume ainda entranhado na roupa – resquícios do último abraço bem dado – até a última gota da garrafa de bebida.
Na mesa do bar, três cadeiras vazias, um corpo exausto, olhos inchados e um coração tão oco quanto gelado. Ecos absurdos, confusos, atordoantes enchiam os ouvidos.
Palavras soltas entravam e não saiam de dentro da cabeça. Eram nomes, sentimentos, emaranhados, molduras, cores, datas, tonteiras e mais uma dose.
No final de uma noite completamente turbulenta não restava mais do que um corpo ébrio, desequilibrado, caindo pelas tabelas, pouco consciente, com palavras que seriam indizíveis, seja por seu caráter confidencial, seja por não terem nenhum significado nos léxicos que fosse capaz de traduzir os sentimentos existentes, que eram tão sólidos e indivizíveis.

Pagar a conta do bar foi fácil. O difícil era arcar com a conta da saudade. Essa, nem com todos os versos que conhecia ou que faria conseguiria quitar. Há, no fundo, um grande saldo devedor em todos os corações e os juros são apertados. Feliz de quem mantém seu carnê em dia.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Da Entrega




Receba os versos que lhe fiz
São a expressão máxima do que posso.
São o resultado de todos meus esforços.
Receba-os, pois, é o que eu sempre quis
(Dar-me a você em silêncio e completude).

Tenho versos que são telas:
Caprichosos como as de Dalí,
Reais em meio a surreais contínuos,
Tateando absurdos concretos.
Beleza em caos de cores,
Harmonia desajeitada e (in)completa
Que tira tudo do lugar
E, ainda assim, quando se revela
É sentido conexo, utopia possível.

Tenho versos simples
Nem sempre singelos
Tampouco métricos,
Mas livres e perfumados.
Receba-os como flores:
Sinta o (meu) perfume,
Salpicado de notas
(Violetas)
Nesse papel inocente-mente branco
Atravessado muito mais pelo que sinto
Do que por aquilo que escrevo,
Porque aprendi a domar a língua,
Mas não o gosto que ela deseja.

Receba, então, os meus versos-temperos
Que dão sabor à minha boca,
Que me enganam mais para o doce
(Do amor)
Mesmo que o saiba agridoce.
Receba os meus versos que podem ser tantos
De pétalas a pimentas
De entregas a simulacros
De verdades escancaradas
De farsas inventadas
Mas cuja inspiração é a mesma
Para além de um arco-íris
Ou antes dele
Seja em meus dias de calmaria
Ou nas turbulências de uma insônia.

Receba os versos que tracei
Tentei-os sob medida,
Mas se não lhe couber
Lamento.

Jogue-os ao vento.

segunda-feira, 9 de março de 2015

De A a Z



Eu bem que poderia escrever o alfabeto em uma folha de papel e à frente de cada letra desfilar dois ou três adjetivos que me cabem. Sem pudores. Sem escolher as palavras mais bonitas, só as sinceras. De A a Z eu exporia tudo aquilo que mais gosto e até o que não gosto em mim, afinal, são muitas letras e, igualmente, são as minhas características.
Se na letra a me caberiam os adjetivos de amável e agradável, há de ter um espaço para a “amarguinha”, naqueles raros dias em que acordo nublada. Sim! Logo eu cheia de sóis, nublo de vez em quando. Em dias de feriados na cidade vizinha, por exemplo.
Poderia seguir a lista a fio. Nãome faltam aqui palavras, nem papel, nem caneta. Tampouco falta a disposição. É que agora, pensando em tudo o que escreveria, penso que a exposição seria demais.
Penso nos desapontamentos que causaria ao não listar um tanto de coisas que todos enxergam menos eu.
Não, eu não sou tão boa gente assim. Gosto de sentar sozinha no ônibus, de andar pelas ruas do Centro com o som ligado bem alto, nos fones, e não ser percebida pelos passantes.
Não, eu não tenho vocação para a princesa de cor de rosa que pintaram a minha infância inteira. Eu sou, talvez, uma dessas moças que usam bordô ou violeta, que tem um batom de cor viva, uma andar apressado e uma vontade danada de fazer tudo ao mesmo tempo.
Ah, e não sou simpática a todo custo e nem o quero. Guardo minhas simpatias para quem em convém. Em meu alfabeto não há espaço para muitas regras do politicamente correto a menos que eu queira ser. Caso contrário vou tirar os saltos e andar descalça no asfalto depois da meia-noite. Vou cantar pra lua e gritar nomes de pessoas que nem sei se me querem tão bem quanto as quero.
Vou escrever poemas dedicados a olhos que não os lerão e isso não fará nenhuma diferença. Vou combinar fim de semana com pijama, DVD com cerveja, vou abandonar as redes sociais por 10 minutos e me arrepender de não ter sido por 10 dias e postarei a minha indignação e fraqueza na timeline.
Não, eu não vou seguir os padrões. Eu não me enquadrarei nas formatações que esse ou aquele estabeleceu, até porquê eu não caibo muito bem em nenhuma forma.

Mas que fique claro: eu sei e posso ser o que eu quiser. E posso escrever todas as letras que eu quiser. E usar os adjetivos. E divertir-me com eles. O que não posso é ser refém de uma fixidez que me asfixia. Quero o ar. Respiro.  E que não me peça, por favor, pra fazer o que não quero. 

domingo, 1 de março de 2015

Quando o Tempo Parou





Tenho a sensação de estar imersa no nada. Como se o tempo tivesse parado. Es-tan-que. Como se eu não pudesse me mexer. Só os olhos reviram nas órbitas. E fazem o traçado mágico do infinito. Ou do que escolhemos para representar o infinito.
O tempo sentou-se no ponteiro do relógio. Descansou. Todos os infinitos, nesse momento, foram tangíveis e destrutíveis. Extremamente sensíveis ao toque ou ao sopro.
Assombro!
Faria, se pudesse, cacos de muitas histórias. Conseguiria me poupar? (Ou lhe poupar? Se tivesse menos cicatrizes, menos dores, eu teria outras cores aos seus olhos?)
No ínfimo segundo em que o relógio parou, todo o tempo coube nele. E eu não coube em mim. E você não coube só em meu pensando e escorreu ladeira abaixo em meu rosto, rumo ao Vale Encantado de meu sorriso. Queda livre que tentei, em vão, evitar.
O tempo congelou. Cessou a respiração. Olhou-se no espelho. Fez estilhaços de tudo o que eu queria. Segurou o coração na mão. Apertou e tirou uma gota de sangue. Suspirou. Invejou os amantes. E se vingou voltando a correr.
Não me sinto mais imersa em nada. Sinto. Sinto muito. E isso, para quem já viu o tempo parar, é dádiva.

É vida.