Se minha cama é,
de fato, um lugar onde as saudades habitam, se é em meu travesseiro que elas me
aguardam todas as noites, recostarei apenas para um cochilo hoje. E todos os
dias em que eu sentir esse misto de medo, de pequenez, de não-saber, de não-querer-lembrar.
A noite foi
feita para pensar. Ou para sentir saudades. O problema é quando essas saudades
teimosas crescem tanto que não cabem no curto período de tempo em que me deito
e adormeço. Ou ainda, quando elas não me deixam dormir, ou invadem os sonhos, e
resolvem fazer barulho no meio do meu dia.
Tem saudade
que é grande, muito grande e dolorida. Eu não queria ter esse tipo de saudade.
Queria ter só as saudades boas, as que não doem, mas me fazem lembrar da
barriga que doeu de tanto rir. Mas eu não controlo as saudades.
Eu não queria
que as saudades reinassem nas minhas madrugadas. Muito menos que elas
carregassem essa pontinha de medo que tenho sempre que olho para a cama e
enxergo meu travesseiro como um berço de saudades.
Mas ela vem. Rainha
soberana do meu espaço entre o sono e o adormecer e invade o quarto. Minha
saudade chega a ser cruel: tem gosto, cheiro, textura e a vejo bem melhor de
olhos fechados, mas se abro meus olhos e toco a penumbra com meus castanhos,
ela ali está, deixando-se perceber.
Não há como
ela deixar de ser tão luminosa. Não há como eu convertê-la em outra coisa se não
em si mesma: a saudade... Esse vão entre o que foi e o que faz falta. Esse oco
entre o que eu gostaria e não foi... Esse trem desgovernado que se antecipa nas
linhas férreas do meu peito.
Agora sinto
saudades antecipadas dos dias que estão por vir e passarão por mim sem que eu
lhes dê total atenção. Daqui a pouco virarão saudades. É nesse momento que me
darei conta de tê-los vivido? Ou é nesse momento que me darei conta de que
poderia ser melhor? Vivo? Existo? Amo e declaro ou só invento cores?
Essas saudades
minhas de cada dia e noite mostram-me o quanto ainda questiono. O quanto não
sei lidar com as descobertas, com os sentimentos, com a lógica da criação. É uma
revelação do meu despreparo para o fim dos dias. É a certeza de que eu gostaria
de viver muitos prolongamentos e os vivos: são as minhas saudades!
Talvez as
saudades que me levante tantas questões sejam as minhas respostas: se há a
saudade, houve o momento. Ou a vontade. Ou o despertar. E, por vezes, tudo o
que eu preciso pelas manhãs é isso: despertar, que é muito mais do que só
levantar da cama e trocar o pijama. O que preciso é abrir os sentidos e receber
todas as sensações!
Que me venham
as saudades! Que me vá embora o medo dessa tolices cotidianas e que haja o
despertar efetivo, aquele que vai me trazer novas e boas saudades que repousarão
tranquilas em meu travesseiro todas as noites!
0 Comentários:
Postar um comentário