Seguem as
horas.
Seguem os
grãos de poeira a dançar no ar.
Tudo é novo.
Nada me encanta. Tampouco tenho vontade de explorar: seja esse quarto de hotel,
seja a cidade lá embaixo, ainda quieta, ainda fria.
Dentro de mim,
ainda está tudo meio morno. Ainda alimento dúvidas. Agora penso em acender um
cigarro, pegar uma bebida ou dar um cochilo enquanto a cidade não começa seus
gritos ensurdecedores e insistentes que não me deixarão descansar.
Deito. Não
durmo. Rolo. Não caio. Nessa cama que acolhe meu corpo, despejo meu mundo e
pouco caibo nele ou ele em mim. Somos uma simbiose, mas não há pleno acordo
entre nós.
Começo a
arder.
Há no ar uma
dor.
Há um ardor.
Respiro esse
bafo quente e úmido, coisa de litoral.
Da janela
avisto uma praia que desconheço, como todo o resto da paisagem lá fora.
O dia está
cinza e caberia em um cinzeiro. É um dia daqueles que amanhece pálido e com uma
aparência adoentada. Faltam-lhe alegrias. Falta-me algo. Somos dois
incompletos: o dia e eu.
Parece-me que
essa paisagem e esse dia desconhecem a finitude. Pousam na linha da eternidade.
Estou ardendo. Estou em estado de quase febre: ardo essa eternidade. Sinto o
peso de ter vivido séculos, como se tivesse protagonizado cada uma das histórias
que li, cada uma das histórias que escrevi.
Não caibo mais
na cama e muito menos em mim. Não refresco meu estado febril nem as ideias ou a
cabeça. Sou brasa. O mundo, meu braseiro. Sigo ardendo e quase tudo não me
basta. Toco as cinzas do dia com a ponta dos dedos e renasço: sou uma espécie
de fênix, que só sabe o que é a vida quando arde.
Tateio o
desejo de frescor e incendeio: desconhece o morno quem nasceu pra ser fogueira.
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