Visitas da Dy

domingo, 16 de março de 2014

Sede


À beira do rio, deixava se levar pela correnteza.
Nas andanças das águas claras era um barco de papel.
Pelas pontas dos dedos tocava o frescor das manhãs:
Enchia-se com o transparente riso do vento.
Era dona de uma sede imensurável:
Buscava a fonte de alegrias.
Bebia a água e toda sorte de poesias.
Lavava sua alma com espumas leves
De correntezas sutis e constantes.
Era uma sede insaciável, sentia-se um deserto
E mergulhava as mãos na água para aliviar-se.
Bebia de seu reflexo na água:
Engolia-se a si mesma na tentativa de se conhecer mais e mais.
Exercitava-se na arte de perder-se.
Deixar se levar pelas águas:
Conduzir-se aos caminhos não previstos.
Se fechasse os olhos já não saberia de onde bebia:
Karun ou Eufrates,
Khabur ou Arax.
Bebia. Bebia e não se saciava
A água era fresca, mas a chama no peito ainda ardia.
A água era viva e na concha das mãos transbordava.
Bebia e desejava que aquele momento não tivesse fim.
Trocaria a eternidade por aquela paz,
Por aquele afago na alma,
Por aquele sossego no espírito.
Trocaria todos os dias nublados por tintas azuis,
Por sorrisos largos e abraços apertados.
Trocaria seus mistérios de desertos enluarados
Pela dinâmica fluente e ensolarada das águas.
Trocaria os longos silêncios
Pela canção suave da água que corria
             Das frestas de seus dedos de volta para o rio.

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