Algumas horas haviam se
passado. Ninguém sabia ao certo quantas. E isso pouco importava, afinal, as
lacunas deixadas por elas eram muito maiores a cada minuto que se seguia e a
cada lembrança, crescendo no ritmo da respiração ou do bater dos corações.
Havia uma agitação inexplicada
dentro de cada um deles. De maneiras diferentes estavam profundamente afetados
com o abismo que se abrira, mas seria difícil dizer qual deles iria saber
descrever, qual deles se aventuraria a dar o passo no sem rumo que os separava.
Agora eram versos escritos em folhas rasgadas.
Não era coisa de um dia
só. A folhinha na parede já estava com alguns números riscados, sinalizando a
curta-longa-duração daquele vão. Conscientemente sabiam que os dias ainda eram
poucos, mas lhe pareciam semanas. Descobriram como o tempo é relativo, dando
razão à teoria de Einstein, finalmente simplificada à lógica dos mortais.
Teimavam como crianças. Calavam-se
como folhas de papel em branco. Queimavam-se nas geleiras que criaram. Congelavam-se
com o ardor de seus quereres expressos nos próprios olhos.
Sabiam que nada era pra
sempre. Sabiam que os sorrisos teriam algo faltando. Ficariam mais sérios. O quebra-cabeças
ficaria com um buraco. Mas ao mesmo tempo sabiam que tudo estava no lugar que
deveria: livros na estante, roupas no varal, cada macaco no seu galho, cada
pensamento voando desordenado. Cada dúvida com sua interrogação e cada um com o
muito do pouco que lhe havia sobrado.
Algumas horas haviam
passado. Muitas estavam por vir. Os corações ainda se doíam. A vida seguia. Um pra
lá. Outro pra cá. E agora, em pouco-muito-tempo, tudo está no lugar. Era só
questão de arrumação.
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