Eu tenho pensamentos mais
sinuosos que a curva de um rio, mais até do que a moça que passa desfilando um
vestido floral pela praça no final da tarde e que arrasta todos os olhares.
Aquela moça que eu, às vezes, invejo.
Eu tenho pensamentos que
me enovelam em mim mesma, servem-me de abrigo e prisão. Aquecem-me no calor
de suas confusões nas noites mais frias, sendo meus eternos companheiros
insones. Prendem-me por horas a fio no correr dos ponteiros que fazem tic-tac
na parede da sala.
Meus pensamentos parecem
labirintos móveis, desses que as paredes trocam de lugar e não me permitem
sair. E eu desejo sair. Desejo sair de casa, sair sem rumo, sair de mim. E eu desejo
cair. Desejo cair de amores, cair pelas tabelas, cair no mundo e descobrir. Ah,
eu quero descobrir todas as razões pelas quais chorei. Todas as razões pelas
quais me calei. Quero descobrir o que as vírgulas do seu discurso solto não me
deixaram compreender. Quero descobrir como preencher os vãos das mãos que me
cercam.
Sou um infinito de
pensamentos também infinitos que se entrelaçam, se embaraçam e se organizam na
bagunça que é minha mente e coração. E cada um desses pensamentos tem um
tamanho diferente. Tenho infinitos grandes e pequenos, entre os quais
danço-menina, choro-adolescente, rio-mulher.
Para esses pensamentos
crio outros pensamentos. Crio soluções entre os soluços que me saem entre
lágrimas ou entre frios, mas todos noturnos, na hora escura em que meu corpo
não me basta. Na hora triste em que sonhos não se realizam. Na hora cruel em
que ouso dizer que, como outros tantos homens, somos sonha-dores, porque as
dores de nossos sonhos não realizados nos açoita a carne se fazendo ainda
maior.
Tenho pensamentos teimosos
que são só seus ou são só você, névoa que encobre os meus horizontes. Paisagem de
dia de segunda-feira corrida entre buzinas e cinzas prediais. Ou ainda,
paisagem imaginada em meu feriado preguiçoso de olhar para o lado e dar um
bom-dia-às-três-da-tarde. Seja qual for a paisagem, em alguns dos pensamentos
só dá você.
Pensamentos teimosos me
pintam como a moça bonita do quadro do museu de artes, belas artes, voando noturna
com corujas, anjos, sabedorias e virtudes que não tenho entre os brilhantes da
Via Láctea. Gosto de me ver assim: voando. Leve. Gosto de me perder nos sorrisos,
mesmo quando sou triste.
Tenho pensamentos que se
eu contasse, seriam minha salvação e perdição, como me são agora as poucas
palavras de meu vocabulário limitado e tudo o que me enche o coração.
Ah, se essa boca abrisse
pra deixar sair todos os meus pensamentos... ah, se eu me precipitasse em chuva
de sorrisos e abraços, de amores e até dores... Ah, se eu conseguisse ser mais leve
que o raio de sol e mais quente que um abraço... Ah, se eu não me perdesse em
meus pensamentos que são mais sinuosos que a curva de um rio. Talvez eu me
perderia no tilintar das estrelas que me sussurram seus segredos brilhantes
antes do nascer do dia, porque saber me perder em versos e poesia tem sido a
mágica de continuar levando os dias.
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