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terça-feira, 25 de junho de 2013

Parecia Outono


Parecia outono. As janelas estavam completamente abertas, deixando entrar a luz do dia.
Parecia uma manhã. Bem cedinho, quando o sol ainda não se levantou por completo da cama e só sentimos o clarear de raios que ele despreguiçou.
Parecia um dia de domingo. Desses que não se tem compromisso algum a não ser com o nada-pra-fazer.
Parecia uma moça comum. Que tomava seu café requentado, comia seu pão com manteiga e levava os dias como todo mundo.
Parecia. Só parecia. Na verdade, não era nada disso.
Já era inverno e o frio caia, entrava impiedoso pelas janelas escancaradas, que ela não queria fechar porque contemplava o dia. Para se aquecer usava casaco de lã e touca e ria com o vento que desgrenhava seu cabelo e cortava os lábios.
O dia já se ia alto, a tarde caia sobre as poucas flores do jardim que desafiavam a estação gelada. O tempo parecia calado, absorto, compondo uma paisagem quase fotográfica, inerte.
Não era domingo, nem sábado, nem nenhum dia de folga. Era mais um dia corrido como os outros que desfilam em nosso calendário, mas ela resolveu dar uma pausa para o dia e para si mesma. Riscou os compromissos da agenda e entregou-se ao ócio, à contemplação da paisagem que se desenhava diante de sua janela.
Podia até se parecer com uma moça comum, mas tinha traços bem peculiares que lhe davam ares de mistério, de riso (quase Monalisa!), de alegria e até melancolia, bem no fundo dos olhos. Definitivamente não levava a vida como os outros. Acordava todos os dias com uma vontade imensa de mudar a si e ao mundo, de amar mais e outra vez e se recusava a acreditar que as coisas iriam mal para sempre.

Pareciam coisas que já haviam sido ditas e pensadas, mas ali, no meio daquele dia em que se deu uma pausa no tempo para deixar o frio entrar pela janela da casa vazia tornaram-se companhias para a reflexão do que seriam os próximos sóis de outono, inverno ou primavera que todos verão.

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