Parecia outono.
As janelas estavam completamente abertas, deixando entrar a luz do dia.
Parecia uma
manhã. Bem cedinho, quando o sol ainda não se levantou por completo da cama e
só sentimos o clarear de raios que ele despreguiçou.
Parecia um dia
de domingo. Desses que não se tem compromisso algum a não ser com o
nada-pra-fazer.
Parecia uma
moça comum. Que tomava seu café requentado, comia seu pão com manteiga e levava
os dias como todo mundo.
Parecia. Só parecia.
Na verdade, não era nada disso.
Já era inverno
e o frio caia, entrava impiedoso pelas janelas escancaradas, que ela não queria
fechar porque contemplava o dia. Para se aquecer usava casaco de lã e touca e
ria com o vento que desgrenhava seu cabelo e cortava os lábios.
O dia já se ia
alto, a tarde caia sobre as poucas flores do jardim que desafiavam a estação
gelada. O tempo parecia calado, absorto, compondo uma paisagem quase
fotográfica, inerte.
Não era
domingo, nem sábado, nem nenhum dia de folga. Era mais um dia corrido como os
outros que desfilam em nosso calendário, mas ela resolveu dar uma pausa para o
dia e para si mesma. Riscou os compromissos da agenda e entregou-se ao ócio, à
contemplação da paisagem que se desenhava diante de sua janela.
Podia até se
parecer com uma moça comum, mas tinha traços bem peculiares que lhe davam ares
de mistério, de riso (quase Monalisa!), de alegria e até melancolia, bem no
fundo dos olhos. Definitivamente não levava a vida como os outros. Acordava todos
os dias com uma vontade imensa de mudar a si e ao mundo, de amar mais e outra
vez e se recusava a acreditar que as coisas iriam mal para sempre.
Pareciam coisas
que já haviam sido ditas e pensadas, mas ali, no meio daquele dia em que se deu
uma pausa no tempo para deixar o frio entrar pela janela da casa vazia tornaram-se
companhias para a reflexão do que seriam os próximos sóis de outono, inverno ou
primavera que todos verão.
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