Visitas da Dy

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Entrelinhas II



De que me adianta o papel
Sem a caneta?
De me adianta escrever
Se minhas idéias parecem sem sentido?
Alguém as lê?
Às vezes trilho as linhas de um caderno
Marcando-as com meus pensamentos,
Para quê?
Quem liga se estão ou não inundados de sentimento?
Alguém me entende?
Ah, quisera eu ser como os poetas
Que mesmo sem nos conhecer
Nos descrevem a alma,
Alentam nossa agonia,
Nos trazem paz e calma...
Ah, quisera eu, um dia,
Encontrar pelos caminhos que faço
Um ser que entendesse
Que entre essas linhas
Há as minhas entrelinhas
Que por trás das palavras
Há um coração
Que bate,
Que pula,
Que se perde,
Que se acha.

Sempre e por todo lugar




O mundo é pequeno,
Mas pode ser que nossos caminhos teimem em se afastar.
Ainda assim, teremos atalhos,
Abriremos trilhas
E voltaremos a nos encontrar.
O tempo não para
E escorre pelos nossos dedos:
É nosso limite inventado,
Nossa prisão sem paredes,
Estreita os laços e distancia o que se desfez...
Quando eu me perder no tempo,
Quando eu não reconhecer esse mundo
Vou correndo por mar
Vou subir na pedra mais linda, mais alta
Vou gritar para o vento.
Acolherá meus resquícios de solidão
Porque ele é meu velho amigo
Mais velho que os séculos
E velhos amigos
Nunca se perdem no tempo
Velhos amigos
Foram feitos para se encontrar
Sempre e por todo lugar.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Poeira



No relógio o tic-tac não para
O que ele denuncia é o avançar das horas,
Dos dias… da vida…
Lá fora a correria segue.
Eu sigo na poeira dos meus dias…
E por mais espessa que a poeira seja,
Por mais fumaça que haja pelas ruas,
Ainda há alegrias!
E eu as encontro todas as manhãs.
A felicidade me espera do lado da cama
Ali, na cabeceira.
Porque por mais que eu tenha motivos,
O simples fato de ter acordado já me dá forças
Pra encarar toda a maratona que se anuncia.
Hoje eu acordei!
Respirei!
Hoje o céu está mais azul
O vento estpa fresco
Recuso-me a ser infeliz!
E se o sol não aparecer,
Faço um desenho com giz…
O que eu quero é ser feliz!
Vida, aí vou eu,
De mala, cuia e chapéu!

Heitor




O grande domador de cavalos atravessou os tempos
Correu pelos séculos,
Por terras desconhecidas.
Deixou seu mundo,
Abadonou seu reino
Ganhou as cabeleiras loiras do sol
A poeira lunar foi soprada em sua fronte
Do céu ganhou a cor dos olhos
Que brilham como as estrelas.
O príncipe não reina mais em suas terras,
Mas em corações
Que o desejaram,
Que o sonharam.
Que hoje o amam.
O pequeno grande Heitor não é mais de Tróia,
Mas é nosso mais precioso tesouro.
O pequeno Heitor é festa,
É alegria, é rara joia!
É saudade que se mata com abraço,
É beijo que se ganha de graça.
É plano dos deuses para a vida dos mortais
É realização de planos,
É incentivo para as batalhas diárias.
O grande Heitor não é mais guerreiro de livros
É, antes de tudo, inspiração de vida.
O príncipe troiano agora é meu
Dorme em minha cama,
Acalma meu espírito.
O sonho de cachos louros é real.
E chora de saudade,
não tanto quanto eu,
Mas já sabe o que é distância.
O príncipe de olhos que ora são azuis, ora verdes,
Sabe o que é ser amado.
Esse príncipe que um dia foi troiano,
Observado pelos deuses do Olimpo,
Agora dorme em meus braços
Fortaleza frágil, mas segura.
O príncipe que usou elmo flamejante,
Descansa em sob meus olhares
Amorosos, vigilantes.
O menino que foi muito esperado
Hoje corre pelos cantos,
Enche a casa e seus espaços,
Faz música com sua risada,
Reina absoluto em minha vida.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Silêncio e Solidão



De que me vale toda essa mobília se a casa fica sempre vazia?
E para quê tantos copos e pratos e talheres, nessa mesa posta se ningué me visita?
Não, não é por falta de amigos, me entenda bem… é que em certos momentos da vida passamo a apreciar mais a solidão e o silêncio. Passamos a preferir a companhia dos livros, dos poemas, poesias, prosas, mesmo.
Às vezes digo que prefiro a companha dos mortos, porque parece que só eles me compreendem: encontro-me nas toadas de Eric Satie, de Chopin, de Bach. Reencontro meus senimentos nas linhas dos que já foram como Pessoa, Maiakovski, Goethe, Drummond, Cecília, Florbela, Clarice, Neruda, Garcia Márquez, Galeano.
Há algum tempo pensava que esse apreço pela solidão só se dava na velhice, quando cansadas do mundo, cansadas de suas vidas, as pessoas preferiam se recolher e fazer o seu balanço final, avaliar o que foi feito, suas condutas, suas ações.
Ilusão!
O apreço pela solidão vem da necessidade de se encontrar.
O que me faz passar horas olhando os meus livros na estante nesse quarto que parece não ser meu é o fato de que preciso me encontrar.
Sair às ruas sorrindo e distribuindo “bom dia” à toda gente é fácil. O difícil é encarar o espelho. É se ver só com você mesma. É entender que os planos falham, é ver seus defeitos de frente, é aceitar quem você é e buscar melhorar o que não lhe agrada.
O que me faz escolher a imensidão dessa casa vazia à companhia de pessoas é que nem todas saberiam entender o que se passa no meu coração, porque somos muito acostumados a julgar só pelas aparências, é que quase ninguém consegue ver a sua essência por baixo da maquiagem. É que os seus vestidos bonitos dizem mais aos olhos de quem lhe vê ou aos dedos que lhe apontam do que as atitudes honrosas que você toma.
Apetece-me esse silêncio porque estu cansada de ser vitrine. Sim, somos vitrines o temo todo! O que importa para os outros é o que eles vêem e não o que sentem e isso é doloroso. É o sinal de que as coisas não vã bem, de que o barco está furado, de que o capitão fugiu no primeiro bote e de que estamos à deriva, valorizando demais o que não tem a menor importância.
Nossos olhos ganharam mais importância: através deles podemos lançar mão de nosso achismo consumista e oportunista e rotuar as pessoas pelo que elas aparentam.
Deixamos de lado nosso coração e o ato de sentir, de conhecer o outro, de extrair o melhor dele e, então, apreciar essas companhias, essas virtudes.
O que me faz apreciar as madrugadas e esse silêncio angustiante que só é quebrado pelo som da chuva que cai desesperadamente em minha janela nesse momento é o fato de que para as pessoas o que importa é que cabelos vermelhos são sinônimo de gente rebelde, que não presta, que só pensa em baderna. Por que não pode ser só a minha cor preferida? A que eu acho que combina mais comigo?
Sim, eu gosto de vermelho. Sim, eu sou rebelde. Sim, eu vou gritar ao me incomodar. Vou espernear. Não vou me conformar. Prefiro a derrota de ter tentado do que a dúvida de um “se”.
Sim, vou usar vermelho nos cabelos. Ele mostra a cor do meu coração que sangra. Que arde. Que se agita ao menor sinal de fogo. Que acelera ao ver o mar. Que sabe que é confuso e que não consegue se organizar. Que pulsa desenfreadamente e descompassadamente em busca de respostas.
Sim, vou usar o vermelho, mesmo que não goste dessa cor nas unhas… mesmo que prefira rosas amarelas, mesmo que seja fora dos padrões.
Vou ser gauche na vida!
O que me faz gostar dessa casa infinitamente grande e vazia é que aqui as paredes ecoam a minha voz, que me é familiar e me dá alento. É que aqui a única voz que escuto faz eco aos meus anseios e não os questiona ou limita ou tenta descontrui-los.
Gosto da sala vazia e dos livros espalhados por toda parte, não só porque gosto de ler, mas porque gosto das palavras ditas, soltas, que voam, que tomam  corpo e força e expressam (quase) tudo aquilo que está na alma.
Gosto de ver essa mesa posta, ainda que vazia. Ela me faz lembrar que já esteve cheia, mas que as pessoas em sua maioria não mereciam esse lugar, porque eram máscaras venezianas ao invés de essência. E para mim, máscaras só no carnaval, para disfarçar as dores que temos no resto do ano. A mesa vazia me faz pensar melhor em quem convidar para sentar-se nela da próxima vez. Faz-me refletir sobre as pessoas e o sentimento de confiança, de reciprocidade, de entrega, de amizade.
Gosto dos copos vazios, sem bebidas ou alegria. Gosto deles assim para lembrar do som dos brindes e pensar em quantas vezes esses brindes foram vãos. Da próxima vez escolherei melhor a bebida, melhor a companhia e melhor as palavras do brinde, porque brindar é selar um pacto. E um pacto deve ser levado a cabo.
O que me faz sentir-me em paz nesse silêncio que amargura o coração é que ele me faz crescer e amadurecer e como todo processo de amadurecimento me faz ser melhor. Faz com que eu me entenda, me aceite, me transforme.
O que me faz entender e aceitar e preferir o silêncio e a solidão desses dias cinzentos e nublados e longos e tediosos é a certeza de que em breve o sol nasce, o dia se colore e isso passa. E a casa voltará a ter pessoas circulando. Não tantas quanto antes, mas raras e caras, nas quais posso confiar porque me entendem. Porque foram escolhidas e me escolheram, e por isso sabem que meu silêncio e isolamento são necessários de vez em quando.

Nós




Nós
Que nos atam e desatam.

Nós
Que nos damos quando nos abraçamos

Nós
Que somos dois em um
Porque somos um olhar para o mesmo horizonte

Nós
Que nos perdemos na noite,
Atropelamos o dia

Nós
Emaranhados de fios
Novelos confusos
De linhas,
De braços,
De sonhos,
De amor…

Nós  
Que fomos, um no outro, amarrados
Que esperamos nunca ser desatados

Descaminhos




E em meio àquela estrada não nos reconhecemos
Nos perdemos
E naqueles caminhos nossos pés se separaram
Se afastaram

Os pés caminhantes chegaram à encruzilhada
As dúvidas dilacerantes tomaram conta dos seres
E só serviram para complicar a caminhada
Embolar todos os saberes

Qual seria o próximo passo?
Voltar, chamar, gritar, pensar?
Amar… e deixar ir, deixar voar…

Quem tem asas e aprendeu a usa-las nunca mais quer saber de chão
E o melhor jeito de mostrar que ama é deixar livre o coração
Voa passarinho, descobre o céu, mas seu serei repouso se quiser voltar.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Mar sem ondas




Desde que você se foi
Minha voz fez-se silêncio.
Meu mar ficou sem ondas.
Fiquei sem rumo,
Desaprendi a navegar.

Nega-me até um “oi”.
Viver é suplício.
E nas noites faço rondas,
Acendo um cigarro – e eu não fumo!
Sinto que vou sufocar.

Enquanto nosso amor durou
O tempo passou.
Era tudo calmaria…
Agora, falta sossego no meu dia.
Sem teus pés não sei caminhar.

Dá-me a luz dos teus olhos,
Dá-me o sossego da alma,
Pois já não sei se vivo ou se morro,
Se amo ou me desespero.

Eu sem você



Eu sem você
Sou domingo sem pavê,
Nada de bom pra ver na TV.
Fim de semana de chuva,
Videira sem uva.

Sou carro na contramão,
Criança que chora na escuridão.
Sou bola vazia,
Tristeza no fim do dia.

Eu sem você,
Caminho pela praia,
Enquanto o vento bate na saia
E já não sei se é dia ou noite,
Porque o passar do tempo me corta como um açoite.

Sou vento sem direção,
Flor despetalada no chão.
Sou só desamor,
Um coração cheio de dor.

Eu sem você…
Sou Dy sem Heitor…
Sou por do sol no Arpoador
Que espera o dia nascer
Sonhando em te ver…


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Madrugada



Aqui nesse quarto
A noite parece tão longa
Conto estrelas,
Converso com a lua,
Besteiras…
É tudo vazio,
É tudo escuro
E teus olhos negros
Parecem me vigiar.
Mas você não está
Nesse lugar
Você não está
Mais do meu lado
Pra onde foi?
Pra onde levou meu sossego?
A madrugada tão fria
Nunca termina
Meu rosto no espelho
Reflete a alma vazia
Pra onde guio os meus olhos,
Agora que não te vejo?
Rolando na cama
Ainda te desejo…
É tudo vazio
É tudo escuro
E os teus olhos negros
Já não me deixam sonhar…
Pra onde foi?
Pra onde levou o meu sossego?
A madrugada tão fria



Nunca termina
Quando estou sozinha…
28 de outubro de 2011


Noites



Em noites como essa
Fico pensando em você
Em noites como essa
Eu só quero te ver
Onde está, que não veio?
No peito o coração se agita
Ah, me dá o teu beijo
Esquece tudo e vem ficar comigo
Então, vem
Dá-me uma chance
Quero te mostrar meu mundo
Vem, traz seu sorriso
Ilumina o meu dia
E vamos ser felizes
Agosto de 2011

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Explicações


Quem pode me dizer o que é o amor?
Quem pode me dizer como descrever um sentimento?
Hoje tentei.
Peguei papel, caneta e coração.
Sentei-me na mesa com eles e comecei.
Ah, foi um atentativa em vão…
Por mais que a caneta dançasse,
O papel não se deixou pintar.
Por mais que o coração batesse,
Não consegui explicar.
E então, uma voz saiu não sei de onde,
Não sei como, e me balançou:
É que tem coisas nessa vida que não se explica,
Não se sente, não se escreve.
Têm coisas nessa vida que só se sentem.
O amor é assim e se explicar,
Acabou.

Cacos


Palavras,
Facas,
Aço afiado.
Punhal que corta o coração.
Pra onde vão?
Não sei…
De onde vêm?
Da boca que não pensa
Geme,
Grita,
Berra.
Por onde passam,
Furacão.
Ah, e o que acontece as ouvidos,
Aos meus ouvidos que não eram acostumados aos gritos?
Se ensurdecem.
O peito se aperta.
Os olhos se embotam.
A cabeça gira,
O corpo sente
Os sentimentos sabotam.
O que resta depois das palavras?
Cacos.
Os meus, os seus, os nossos,
Que um dia foram dois,
Que um dia se tornaram um,
Que agora se misturam
E que jamais serão os mesmos.
Pisa de leve nessa sala
Toma cuidado com o que sobrou de mim:
Esses cacos, meus cacos,
Podem machucar
Tanto quanto as palavras.
As suas palavras.

Alma acompanhada


E quando o sol se por
E quando o brilho não pousar mais sobre a terra
E  quando a lua não aparecer
Nem as estrelas dançarem no ceu
Que subam as marés
Que soprem os ventos
E façam as folhas secas do chão rodopiarem.
Que folhas loucas se joguem dos galhos,
Que belas flores ornem tua fronte,
Porque mais importante que o ciclo do mundo
É a paz que reina em teu coração.
E quando o que restar for silêncio
E no escuro, a solidão,
Sente o teu corpo abraçado,
Os teus cabelos afagados,
E na ausencia que enche o breu do quarto
Sente a presença anunciada.
Porque a saudade é a lembrança
da alma que já esteve acompanhada.

sábado, 22 de outubro de 2011

Noturno II



              Por muitas vezes ela olhava a lua nas noites quentes enquanto ele dormia pesadamente na cama, palco de seus momentos de cumplicidade.
Era uma “filha da noite”. Gostava de ficar acordada enquanto todos dormiam. Gostava do silêncio das madrugadas, o que parecia contraditório já que ela afirmava não gostar de silêncio e passava a maior parte do tempo ouvindo músicas ou cantando.
Gostava de ver o vazio das ruas, o voo de aves noturnas. Gostava de dar asas aos seus pensamentos e isso acontecia com mais freqüência nas noites, no escuro, naquele silêncio aveludado.
Naquela noite, ela parou para conversar com a lua. Revelou-lhe o medo que sentia de vê-lo partir um dia. Ninguém sabia ao certo, mas ela era insegura, pensava muito em várias possibilidades para cada situação, para saber como se comportar, justamente para esconder essa insegurança toda, para esconder a sua fragilidade. Às vezes, não raro, conseguia, mas por dentro ela tremia.
Lá no fundo de seu coração, olhando aquele corpo adormecido, ela sentia que o fim estava próximo, que aquela história tinha um prazo de validade.
No escuro ela se perguntava se de fato o amava. Apesar do tempo em que estavam juntos ela não sabia responder se era amor ou se era costume e começou a imaginar situações  para tentar entender o que se passava.
Aos poucos deixou de imaginar e se pôs a lembrar os momentos que passaram juntos, os sorrisos, as lágrimas e os abraços – ela adorava abraços!...
Voltou a olha-lo dormindo, relaxado, tranquilo, entregue aos sonhos, imerso nos lençóis e na noite que seguia lenta...
Num instante ela sorriu e percebeu que era mais um caso desses “amores passageiros”. Mais uma paixão que ela colecionaria. Olhou o rosto dele sereno na penumbra do quarto. Lentamente se vestiu, pegou a bolsa e foi para a porta. Antes de sair ela ainda escreveu um bilhete para ele: “mais um amor que virou bom dia...”. Deixou o papel sobre a mesa. Virou as costas e partiu, porque logo o sol romperia a barra da noite; porque algumas pessoas passam por nossas vidas só par deixarem uma saudade gostosa, para nos lembrarmos que existem momentos felizes. 
Partiu porque entendeu que a vida era curta demais para que ficasse ali, sem ser sinceramente feliz.
Ela saiu daquele quarto rumo à sua felicidade que só podia ser construída por ela mesma e que não seria ao lado dele.
             Ela partiu porque descobriu naquele momento que a felicidade é uma coisa na qual precisava correr atrás.
              

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Sobre o amor e suas sutilezas



Comecei a organizar os textos que escrevo para não me perder no meio de tantas palavras.
Percebi que tenho temas bem próximos, alguns repetidos, mas o que mais me chamou a atenção foi a facilidade com a qual nomeei uma das séries: “sobre o amor e as suas sutilezas”… lindo! Delicado e tão próximo do que é mesmo o amor: uma variação de sutilezas!
Decidi escrever um texto específico com esse título, pensando nessas sutilezas e só consegui pensar em uma pessoa: minha mãe. Então, para ela, um texto simples, cheio de sutilezas e amor!

Sobre o Amor e suas Sutilezas

(Para ler e depois ouvir Linha do Horizonte – Azymute, uma das músicas preferidas de minha mãe e minha por herança…)

Então lá na década de 80, precisamente em 1984, ela, um moça com seus 19 anos tem um bebê e se torna a minha mãe. Ela não sabia mas naquele dia 20 de novembro ela tinha perdido o seu nome (Edna) para ser chamada pra sempre de “mãe”.
E assim se fez. Virou mãe e cumpriu com louvor a sua tarefa de educar uma menina meio quietinha, meio voltada para seus livros, que crescia e queria mudar o mundo, que achava muita coisa estranha e falava tudo o que pensava.
Hoje, olhando para essa estrada que dura 26 anos percebo o quanto minha mãe, Edna, soube me mostrar todas as sutilezas que podem envolver o amor.
É nessa madrugada quente, insone e ainda com o cheiro da chuva que caiu sobre as terras cariocas por todo o dia que os meus olhos se enchem d’água quando percebo que se hoje eu sei o que é o amor é por conta dela, que todos os dias demonstrava como a vida era, com suas dificuldades, mas sem desanimar e mostrando que quando se ama tudo fica mais fácil.
Para além de eu amar minha mãe só porque ela é minha mãe – e disso ninguém escapa – eu a amo por tudo o que ela é, e experimento nela as várias formas de amor.
Aprendi com ela que o amor é incondicional, que é forte, que supera desafios, que consegue romper as dificuldades.
Muitos anos depois entendi que o amor é sacrifício. É abrir mão de um ou dois ou muitos sonhos para ver o sonho do outro realizado. E eu que pensava que isso fosse uma espécie de autonegação, entendo que é amor: porque às vezes amamos tanto que só queremos o bem e a felicidade de quem amamos.
Vi que o amor é apoiar projetos malucos de uma filha que de repente cisma que vai estudar numa escola que nem sabe onde é; que é achar esquisito alguém que se forme em História, mas apoiar cada etapa de um vestibular.
É ir no quarto de madrugada levar um chá e recomendar um cochilo quando vê a filha se matando de estudar, imersa numa insônia que dura semanas.
É ir no quarto, mesmo quando o seu bebê tem mais de 20 anos pra cobri-lo em noite de inverno.
O amor é dizer não na hora certa. Vai ouvir uns resmungos, umas birras, tolerar uma tromba maior que a de um elefante, mas vai ver que lá na frente o não valeu a pena e trouxe mais valores do que ela imaginava.
Amar é cantar MPB para as crianças. É colocar bandinhas dos anos 70 pra tocar nas festinhas de aniversário dos filhos, ver que eles se divertem e gostam daquilo e que os coleguinhas fazem cara de paisagem… e… é ver que dias depois todo mundo sabe quem é Beatles, The Zombies, Abba.
Uma sutileza do amor é assistir filme de romance enrolada nas cobertas com a filha e chorar litros.
Um presente é poder levar a filha para a maternidade e ganhar um neto no dia do aniversário!
O amor é escrever uma carta de despedida para ir morar em outro estado… é usar Djavan para explicar o que se sente, para mostrar que “amar é um deserto e seus temores”, mas que tudo na vida só faz sentido porque só se sabe “viver se for por você”.
Aprendi com minha mãe que se ama os amigos como irmãos que não se tem, e muito mais, porque esses são escolhidos por nós: fazem parte de nossas vidas, de nossas histórias porque permitimos, porque, de fato, os aceitamos como são e isso é amar!
Por fim, aprendi com minha mãe que amar é assumir muitas responsabilidades, mas é ter o coração pequenininho e mesmo assim fazer de conta que está tudo bem. É não mostrar o medo, porque alguém tem que ser forte nessa casa! É só contar que teve medo depois que tudo já passou…
Amar é deixar voar. É ter olhos saudosos por antecipação frente ao vôo dos filhos, que exploram outros céus, mas sempre voltam pro ninho…
Se tem alguma coisa sutil e intensa é o amor de minha mãe, que recebi, que sinto e que espero, de verdade, saber mostrar para o meu filho.