Comecei a organizar os
textos que escrevo para não me perder no meio de tantas palavras.
Percebi que tenho temas bem
próximos, alguns repetidos, mas o que mais me chamou a atenção foi a facilidade
com a qual nomeei uma das séries: “sobre o amor e as suas sutilezas”… lindo! Delicado
e tão próximo do que é mesmo o amor: uma variação de sutilezas!
Decidi escrever um texto
específico com esse título, pensando nessas sutilezas e só consegui pensar em
uma pessoa: minha mãe. Então, para ela, um texto simples, cheio de sutilezas e
amor!
Sobre o Amor e suas Sutilezas
(Para ler e depois ouvir
Linha do Horizonte – Azymute, uma das músicas preferidas de minha mãe e minha
por herança…)
Então lá na década de 80,
precisamente em 1984, ela, um moça com seus 19 anos tem um bebê e se torna a minha
mãe. Ela não sabia mas naquele dia 20 de novembro ela tinha perdido o seu nome
(Edna) para ser chamada pra sempre de “mãe”.
E assim se fez. Virou mãe e
cumpriu com louvor a sua tarefa de educar uma menina meio quietinha, meio
voltada para seus livros, que crescia e queria mudar o mundo, que achava muita
coisa estranha e falava tudo o que pensava.
Hoje, olhando para essa
estrada que dura 26 anos percebo o quanto minha mãe, Edna, soube me mostrar
todas as sutilezas que podem envolver o amor.
É nessa madrugada quente,
insone e ainda com o cheiro da chuva que caiu sobre as terras cariocas por todo
o dia que os meus olhos se enchem d’água quando percebo que se hoje eu sei o que
é o amor é por conta dela, que todos os dias demonstrava como a vida era, com
suas dificuldades, mas sem desanimar e mostrando que quando se ama tudo fica
mais fácil.
Para além de eu amar minha mãe
só porque ela é minha mãe – e disso ninguém escapa – eu a amo por tudo o que ela
é, e experimento nela as várias formas de amor.
Aprendi com ela que o amor é
incondicional, que é forte, que supera desafios, que consegue romper as
dificuldades.
Muitos anos depois entendi que
o amor é sacrifício. É abrir mão de um ou dois ou muitos sonhos para ver o
sonho do outro realizado. E eu que pensava que isso fosse uma espécie de
autonegação, entendo que é amor: porque às vezes amamos tanto que só queremos o
bem e a felicidade de quem amamos.
Vi que o amor é apoiar
projetos malucos de uma filha que de repente cisma que vai estudar numa escola que
nem sabe onde é; que é achar esquisito alguém que se forme em História, mas
apoiar cada etapa de um vestibular.
É ir no quarto de madrugada
levar um chá e recomendar um cochilo quando vê a filha se matando de estudar,
imersa numa insônia que dura semanas.
É ir no quarto, mesmo quando
o seu bebê tem mais de 20 anos pra cobri-lo em noite de inverno.
O amor é dizer não na hora
certa. Vai ouvir uns resmungos, umas birras, tolerar uma tromba maior que a de
um elefante, mas vai ver que lá na frente o não valeu a pena e trouxe mais
valores do que ela imaginava.
Amar é cantar MPB para as
crianças. É colocar bandinhas dos anos 70 pra tocar nas festinhas de aniversário
dos filhos, ver que eles se divertem e gostam daquilo e que os coleguinhas
fazem cara de paisagem… e… é ver que dias depois todo mundo sabe quem é Beatles,
The Zombies, Abba.
Uma sutileza do amor é
assistir filme de romance enrolada nas cobertas com a filha e chorar litros.
Um presente é poder levar a
filha para a maternidade e ganhar um neto no dia do aniversário!
O amor é escrever uma carta
de despedida para ir morar em outro estado… é usar Djavan para explicar o que
se sente, para mostrar que “amar é um deserto e seus temores”, mas que tudo na
vida só faz sentido porque só se sabe “viver se for por você”.
Aprendi com minha mãe que se
ama os amigos como irmãos que não se tem, e muito mais, porque esses são
escolhidos por nós: fazem parte de nossas vidas, de nossas histórias porque
permitimos, porque, de fato, os aceitamos como são e isso é amar!
Por fim, aprendi com minha mãe
que amar é assumir muitas responsabilidades, mas é ter o coração pequenininho e
mesmo assim fazer de conta que está tudo bem. É não mostrar o medo, porque alguém
tem que ser forte nessa casa! É só contar que teve medo depois que tudo já
passou…
Amar é deixar voar. É ter
olhos saudosos por antecipação frente ao vôo dos filhos, que exploram outros céus,
mas sempre voltam pro ninho…
Se tem alguma coisa sutil e
intensa é o amor de minha mãe, que recebi, que sinto e que espero, de verdade,
saber mostrar para o meu filho.
1 Comentários:
Lindo demais... vc é impressionante amiga!!!
beijos
Postar um comentário