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quarta-feira, 6 de junho de 2018

Sempre posso parar




Eu sempre posso parar, afirmo diante das lembranças que me fazem perder a hora em algum momento entre o despertador tocar, a consciência se ativar e, de fato, desandar o dia em correrias.
É sempre a mesma coisa: só mais cinco minutos. Sob os lençóis mornos fecho os olhos, lembro dos seus olhos e boca e hálito e tudo o mais o que lhe compõem e me transfere energia e imagino o que não é, mas que eu gostaria.
Eu sempre posso parar, mas pela janela do ônibus, combinando com essa música, invento algumas histórias que deveriam virar um livro. E encontro seus contornos em uma ou duas frases. Não tem jeito. Eu lhe uso como inspiração.
Eu sempre posso parar, repito quando estou em um dia conturbado e gostaria de ligar pra alguém e ouvir só a sua voz. Não é por nada demais, só que ela se transformou no meu som preferido desde mil novecentos e tanto. Desde que respirou pela primeira vez. Desde que eu nem sabia de sua existência.
Eu sempre posso parar tudo, menos a paisagem que se agita com o vento. Com os passos de dança do relógio certeiro, mas que atrasa nosso encontro.
Eu sempre posso parar, mas sua miragem é o que me dá contentamento em dias cinzas e prefiro continuar. Mas que fique claro: estou me convencendo de que eu sempre posso parar.




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