Eu sempre posso parar, afirmo diante das lembranças
que me fazem perder a hora em algum momento entre o despertador tocar, a
consciência se ativar e, de fato, desandar o dia em correrias.
É sempre a mesma coisa: só mais cinco minutos. Sob
os lençóis mornos fecho os olhos, lembro dos seus olhos e boca e hálito e tudo
o mais o que lhe compõem e me transfere energia e imagino o que não é, mas que
eu gostaria.
Eu sempre posso parar, mas pela janela do ônibus,
combinando com essa música, invento algumas histórias que deveriam virar um
livro. E encontro seus contornos em uma ou duas frases. Não tem jeito. Eu lhe
uso como inspiração.
Eu sempre posso parar, repito quando estou em um
dia conturbado e gostaria de ligar pra alguém e ouvir só a sua voz. Não é por
nada demais, só que ela se transformou no meu som preferido desde mil novecentos
e tanto. Desde que respirou pela primeira vez. Desde que eu nem sabia de sua
existência.
Eu sempre posso parar tudo, menos a paisagem que se
agita com o vento. Com os passos de dança do relógio certeiro, mas que atrasa
nosso encontro.
Eu sempre posso parar, mas sua miragem é o que me
dá contentamento em dias cinzas e prefiro continuar. Mas que fique claro: estou
me convencendo de que eu sempre posso parar.
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