Há estações que são minhas preferidas. Caberia aqui
citar cidades, trens, concreto, ferro e pó. Mas me falam mais alto a cor das
flores, o cheiro do sol da manhã, as voltas dessa Terra na imensidão.
Por ser assim, sempre que posso relembro a estação
na qual parei, desembarquei alguns sonhos e não tenho certeza se já parti ou
faço dela minha morada: aquela na qual experimentei seus olhos sobre mim, um
quase frio, ameno, um quase dia ensolarado, brando, um prelúdio de noite calma,
meu antônimo.
Escrevo nessa noite de outono e pouco importa seu
número no calendário. Pouco importa se lhe experimentei ontem ou na semana que
vem. O tempo passa e caber-me nessa ou naquela noite da semana não faz
sentido... A ampulheta doa-se a cada um dos lados e sou parte do pó. Escorro
por uma fresta. Sou o tempo que está (se) perdendo (?).
Conto os meses só pra saber se estou, de fato, na
mesma estação.
Deve ser o quarto: mês. Também é o local. Minha
pouca atenção recai sobre o nada. Não interessa-me a racionalidade matemática
ou a precisão do tempo numérico. Sou regida pela lua. Sei em que ciclo estamos:
ela e eu. Estamos minguantes. Nosso inverno não tarda. Ele se anuncia pelo
cinzento que margeia o castanho de meus olhos.
Estamos à míngua daquilo que já foi desejado.
Acostumamo-nos com o jogo complicado do ser-não-ser: o possível depende da
ação.
A palavra que precede a ação a deseja, mas é
incapaz. Abstrata. Inerte. Vaga. Vazia. Eu que já quis tanto, tenho dúvidas ou
é só cansaço?
Sou espera na estação, mas não sei até quando.
Minguo. E comigo vai a espera, o desejo, sua imagem, quase vulto.
Sinto o frio de um vento lunar tão deslocado quanto
eu nesse momento e, embora cansada, sou capaz de suplicar: deixe-me. Ou deixe que me aqueça sob a luz do
seu olhar.
E, entre as artes que domino, deixe-me lhe pedir
que me ilumine enquanto a luz de seus olhos pousa sobre mim enquanto passo um
café, paixão minha, calor meu. (Desas)sossego meu, quente na ponta dos dedos,
perfeito na ponta da língua, fogo que me arde mais nos véus noturnos que nos
desertos do meio-dia.
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