Eu não mentiria se dissesse que gosto do momento em
que sou o alvo de seus olhos. Mesmo de relance, quando os pego em flagrante.
Mesmo sendo fato anunciado, presença que deflagra.
Porém, mais sagrado é o instante que precede a
ação. Espontâneo. Intrépido. Que bagunça seu meio-dia desenhando, de alguma
forma, minha presença em seu pensamento.
Esse indomável momento descuidado em que apareço e
alegro. Avivo. Será que chego a roubar um sorriso?
Esse é, de fato, o encanto, o sacro: quando, sem
que possa controlar, reino nos desertos pensamentos e, se não pareço dançar,
sou a música, o vento, a poesia e a pausa em que se lança sem preocupação.
Alheio tempo. Estanque hora.
Nesse instante em que não controla, sou mais livre
do que nunca. E existo só pelo seu bem querer. Só porque me pensa. Só porque me
credita um fio de seu dia.
Claro, se vem me ver, serei feliz, mas também
saberei de todas essas coisas: os passos são todos derivados do sagrado. Do
sagrado momento que invado seus pensamentos.
Mas que fique claro: quando me olha, minha pele tem
sensações profanas.
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