Pelas lentes
do fotógrafo, o tempo para. Congelam-se a felicidade, os sorrisos, os abraços,
as emoções.
Cabe à
fotografia a função de ser a chave da caixinha de memórias. Dispositivo mágico,
de teletransporte, que me leva ao passado num fechar de olhos. Que me faz
reviver o toque. Que me invade com o perfume daquele abraço, que morou por
tantos dias na camiseta que eu relutei em lavar.
Quando abro um
álbum de fotografias, é como se eu abrisse uma parte de meu coração. Tenho acesso
livre àquele dia de sol, ao banho de chuva, ao café que queimou a língua, à
música que eu dancei e nunca aprendi a letra.
Quando não
posso contar com os artifícios de uma mágica captura fotográfica, uso minhas
retinas, torcendo para que elas não me abandonem, não falhem. Torcendo para que
elas imprimam em mim aquelas emoções cotidianas tão fortes que eu possa
lembrar-me delas quando fechar os olhos.
É por isso
que, quando tenho saudades, gosto de ficar no escuro, como se ele fosse uma
tela de cinema na qual desfilarei meus momentos acumulados ao longo das
experiências.
É no escuro
que acesso meus cantos empoeirados, minhas represas de lágrimas contidas, minha
coleção de gargalhadas bobas. E é ali, no escuro, sozinha, que eu rio, choro,
gargalho, me abraço, me acolho, me nino, me cresço.
Fotografo e
tatuo em mim, com minhas retinas, tudo o que me afeta para que eu não me
esqueça que, embora os dias possam parecer áridos e cansativos, é à noite que
entro num oásis de embalos emocionais que valem a pena e me revigoram e me
renovam as esperanças.
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