Ouviu cada
palavra saída daquela voz pouco cadenciada e preguiçosa. Fez de seu colo o
divã.
Era atenta aos
sinais mais sutis e, no fundo, só estava confirmando o que já sentira: não era
pra ser.
A cada volta,
a cada lamento, a cada desejo veementemente declarado, ao mesmo tempo em que se
lisonjeava, se entediava.
Desde que o
beijara sob aquele sol quente sabia que não tinha se apaixonado. Eram tonturas
causadas pelo calor, naquela quase insolação amenizada pela
cerveja-gelada-amém.
Ela queria
experimentar todas as nuances que fossem possíveis, mas sabia que tudo não
passaria de chuva de verão. Talvez momentos caldalosos, mas breves. Talvez
sentimentos tórridos, mas insipiente.
Dito e feito,
ali estava ela diante de um amontoado de "e agora?", de "não sei
o quê", de "não é agora". Tornara-se paciente. Ouvia. Em seu
íntimo até lamentava: poderiam ter se divertido. Se desbravado. De certa forma,
até se amado, mas, uma vez que seu corpo havia se transformado em divã, nunca
mais seria cama ardente.
Ouviu tudo o
que podia. Sorriu. Guardou-se na bolsa junto com seu orgulho, seu bem-querer e
suas vontades de dezembro. Seguiu pela porta. Ignorou os telefonemas. Abriu uma
cerveja e resolveu seguir um mandamento sagrado: amar o próximo.
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