Visitas da Dy

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Amar o próximo




Ouviu cada palavra saída daquela voz pouco cadenciada e preguiçosa. Fez de seu colo o divã.
Era atenta aos sinais mais sutis e, no fundo, só estava confirmando o que já sentira: não era pra ser.
A cada volta, a cada lamento, a cada desejo veementemente declarado, ao mesmo tempo em que se lisonjeava, se entediava.
Desde que o beijara sob aquele sol quente sabia que não tinha se apaixonado. Eram tonturas causadas pelo calor, naquela quase insolação amenizada pela cerveja-gelada-amém.
Ela queria experimentar todas as nuances que fossem possíveis, mas sabia que tudo não passaria de chuva de verão. Talvez momentos caldalosos, mas breves. Talvez sentimentos tórridos, mas  insipiente.
Dito e feito, ali estava ela diante de um amontoado de "e agora?", de "não sei o quê", de "não é agora". Tornara-se paciente. Ouvia. Em seu íntimo até lamentava: poderiam ter se divertido. Se desbravado. De certa forma, até se amado, mas, uma vez que seu corpo havia se transformado em divã, nunca mais seria cama ardente.

Ouviu tudo o que podia. Sorriu. Guardou-se na bolsa junto com seu orgulho, seu bem-querer e suas vontades de dezembro. Seguiu pela porta. Ignorou os telefonemas. Abriu uma cerveja e resolveu seguir um mandamento sagrado: amar o próximo.

0 Comentários:

Postar um comentário