Na tarde
quente de segunda-feira ele estava ali parado, assustado, tremendo, coração
acelerado e, nos olhos, um quase terror, especialmente por me ver tão perto.
O pequeno
beija-flor conseguia ser menor que minha mão e não ofereceu resistência aos
meus dedos que o envolveram sutilmente, esperançosos de que o cuidado lhe caísse
bem.
Ao segurar o
filhote, que ainda não descobriu o poder de suas asas e a grandeza de sua existência,
embora aparentemente pequena se considerada apenas suas dimensões, lembrei-me
do título de um filme francês: A Delicadeza do Amor.
Como era
delicado aquele pedaço de amor da natureza que eu segurava na palma da mão... e
como era frágil e exigia cuidado. Um cuidado tão especial e, ao mesmo tempo,
simples, que eu não sabia se poderia dar.
E, olhando de
perto, toda aquela fragilidade em vida parecia um espelho: ali, com o coração
aos pulos, assustado diante do inesperado desconhecido que poderia cuidar ou encerrar
aquele sopro. Era como se eu estivesse me vendo: com todos os medos, com todos
os telhados de vidro, com todas as chances de abrir as asas e saltar pelos
precipícios, mas sem saber, ao certo, como fazê-lo.
No meio da tarde
segurei um fio de vida que sempre admirei em beleza e vitalidade e, no meio da
tarde, percebi que sou, na verdade, tal qual o passarinho: um ser alado, que
precisa de pausas. Um ser leve que pousa, mas que tem no peito inquietações tão
vitais quanto o ar. Tenho um coração de todo o mundo, como todo mundo.
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