Visitas da Dy

segunda-feira, 21 de julho de 2014

O Verbo



A vontade de acertar nos impulsiona a tantos caminhos, tantas veredas, e são todas tão revestidas de esperanças que nos lançamos na busca pela felicidade.
Com sorte nossos pés cruzarão a fronteira de nosso eldorado e teremos a certeza de que tudo deu certo. Com sorte esse momento virá logo. Caso contrário, teremos uma companhia na cama: a dúvida. Chega uma hora em que somos consumidos por ela. Chega uma hora que todas as nossas exclamações são envergadas e transformam-se em interrogações.
Faltam-nos palavras. Que verbo usar para afastar a dúvida? Como arrancar de nosso íntimo tudo o que nos amedronta?
Todas as promessas que ouvimos parecem ocas. E o vazio aumenta a cada vez que lembramos das tantas ultimas vezes declaradas, juradas e não cumpridas.
Chega uma hora que por mais seriedade que tenhamos, não saímos do lugar ou será que saímos e voltamos sempre ao ponto de partida sem perceber? Para todas essas voltas, o cansaço é a resposta. E quando ele chega, desaba sobre nós a vontade de fugir. De sumir. De evitar o mal que nos consome frente a toda impotência que sentimos.
É quando cansamos de lutar que entendemos o suplício de Tântalo. É quando o mundo, mudo, vasto mundo, não nos mostra mais do que rostos de Raimundos e Marias cujas bocas não falam, que percebemos que não nos saciamos. Que não alcançamos todas as certezas e que nos abandonamos aos poucos pelos caminhos.
Há um momento na vida que se repete de tempos em tempos em que as palavras ecoam em nós e reverberam seus sons por toda parte devolvendo-nos nossos questionamentos.
Frente a tantas dúvidas, nossa alegria se dissipa com o apagar das luzes e tudo perde parte do sentido. As palavras que deveriam ajudar nos levam para longe de nós mesmos e nos perdemos cada vez mais. O convívio com nossa própria sombra passa a ser insuportável.
Pular do trem! Abandonar o navio. Abandonarmo-nos de vez e irmos para outro mundo. Essas são as nossas vontades, mas somos presos a nós e a nossas escolhas. Somos presos às nossas histórias.
Qual é o verbo que nos cabe quando nenhuma palavra faz sentido?
Qual é o verbo que nos ajudar a reconstruir a sanidade quase perdida?
Qual é a saída para esse lugar escuro em que tateamos a decepção?
A saída é escondermos as tesouras de nossas mãos. É pararmos de despedaçar nossos corações com torturas desnecessárias. O segredo é aprendermos com tudo e enxergarmos as gotas de sabedoria que mesmo pequenas saciam nossa alma sedenta.
Se estamos na escuridão das dúvidas, que queimemos nossas inseguranças e que possamos ver as faíscas subindo, iluminando nossas novas possibilidades.
Espantar nossos fantasmas quebrando as suas correntes é dar a liberdade a nós e não apenas a eles. A fuga não resolve, adia. E o verbo certo é sempre o agir, o recomeçar, o mover.

Para os dias em que desejamos a fuga, que saibamos ficar e mudar o que nos incomoda, para que cresçamos e reconquistemos a alegria de viver.

0 Comentários:

Postar um comentário