A vontade de
acertar nos impulsiona a tantos caminhos, tantas veredas, e são todas tão
revestidas de esperanças que nos lançamos na busca pela felicidade.
Com sorte
nossos pés cruzarão a fronteira de nosso eldorado e teremos a certeza de que
tudo deu certo. Com sorte esse momento virá logo. Caso contrário, teremos uma
companhia na cama: a dúvida. Chega uma hora em que somos consumidos por ela. Chega
uma hora que todas as nossas exclamações são envergadas e transformam-se em
interrogações.
Faltam-nos
palavras. Que verbo usar para afastar a dúvida? Como arrancar de nosso íntimo
tudo o que nos amedronta?
Todas as
promessas que ouvimos parecem ocas. E o vazio aumenta a cada vez que lembramos
das tantas ultimas vezes declaradas, juradas e não cumpridas.
Chega uma hora
que por mais seriedade que tenhamos, não saímos do lugar ou será que saímos e voltamos
sempre ao ponto de partida sem perceber? Para todas essas voltas, o cansaço é a
resposta. E quando ele chega, desaba sobre nós a vontade de fugir. De sumir. De
evitar o mal que nos consome frente a toda impotência que sentimos.
É quando
cansamos de lutar que entendemos o suplício de Tântalo. É quando o mundo, mudo,
vasto mundo, não nos mostra mais do que rostos de Raimundos e Marias cujas
bocas não falam, que percebemos que não nos saciamos. Que não alcançamos todas
as certezas e que nos abandonamos aos poucos pelos caminhos.
Há um momento
na vida que se repete de tempos em tempos em que as palavras ecoam em nós e
reverberam seus sons por toda parte devolvendo-nos nossos questionamentos.
Frente a
tantas dúvidas, nossa alegria se dissipa com o apagar das luzes e tudo perde
parte do sentido. As palavras que deveriam ajudar nos levam para longe de nós
mesmos e nos perdemos cada vez mais. O convívio com nossa própria sombra passa
a ser insuportável.
Pular do trem!
Abandonar o navio. Abandonarmo-nos de vez e irmos para outro mundo. Essas são
as nossas vontades, mas somos presos a nós e a nossas escolhas. Somos presos às
nossas histórias.
Qual é o verbo
que nos cabe quando nenhuma palavra faz sentido?
Qual é o verbo
que nos ajudar a reconstruir a sanidade quase perdida?
Qual é a saída
para esse lugar escuro em que tateamos a decepção?
A saída é
escondermos as tesouras de nossas mãos. É pararmos de despedaçar nossos corações
com torturas desnecessárias. O segredo é aprendermos com tudo e enxergarmos as
gotas de sabedoria que mesmo pequenas saciam nossa alma sedenta.
Se estamos na
escuridão das dúvidas, que queimemos nossas inseguranças e que possamos ver as
faíscas subindo, iluminando nossas novas possibilidades.
Espantar nossos
fantasmas quebrando as suas correntes é dar a liberdade a nós e não apenas a
eles. A fuga não resolve, adia. E o verbo certo é sempre o agir, o recomeçar, o
mover.
Para os dias
em que desejamos a fuga, que saibamos ficar e mudar o que nos incomoda, para
que cresçamos e reconquistemos a alegria de viver.
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