Talvez no fim
do dia só reste isso: um leve cansaço. Uma vontade enorme de fechar os olhos,
desligar e, com sorte, acordar em outro século. Às vezes só alguns meses bastariam.
A vontade é
dessas de se transportar para lugar-algum-em-tempo-desconhecido. E ela bate naquelas
segundas-feiras que nos pegam em momentos imprevisíveis, até nas feiras, já que
pode ser em pleno sábado, quinta, ou domingo, tanto faz o dia. A segundona vem.
A segundona pesa. Ela parece saber o nosso calcanhar de Aquiles e mira bem no
ponto fraco. E acerta. E derruba.
Pode ser por um
motivo qualquer, mas pode ser – e na maioria das vezes é – pelas pessoas. Pela
exaustão diária dos exercícios mirabolantes que são as relações.
Essa coisa de
conhecer os conhecidos e os desconhecidos. De decifrar os enigmas, de matar os
leões, de quebrar barreiras, construir pontes e não muros e nadar contra a corrente.
É tudo tão cansativo. É tudo tão extenuante.
Em dias como o
de hoje eu me sinto extremamente cansada. Olho com desconfiança para todos os
lados e não encontro apoio em lugar algum.
Talvez seja só
a busca pela paz que extrapola os seus limites e fica mais evidente, dando um
baque, já que nos outros dias disfarçamos o insucesso em alegrias breves.
Deve ser a
vontade de beber doses de tranquilidade que seca mais a boca e nos tira a
capacidade de falar e quase de respirar.
É só uma
vontade de encontrar sorrisos firmes e sinceros, daqueles que iluminam e que são
bem diferentes daqueles que estampam as caixas de cremes dentais.
Deve ser mesmo
uma vontade de sinceridade ou de verdades ou de tantas coisas que fazem falta e
que parece que ninguém mais se dá conta. A vontade de sumir é isso: é solitária,
mas é coletiva em dias como o de hoje. É uma vontade minha, mas que encontra
guarida em outros corações.
Deve ser coisa
de poeta querer ver rima em tudo. Não se conformar com as cores das ruas. Não ter
vocação para viver com os sentimentos sufocados e não se sentir bem nesse aquário
em que vivemos.
Deve ser coisa
de gente que nasceu poesia e tem asas querer se desprender do chão e sair sem
rumo, querer perder o norte voando pro sul, querer tocar a linha do Oriente
dando a volta pelo Ocidente. Deve ser coisa de quem não se acostuma com nada,
de quem nasceu pra questionar porque gosta de brincar de interrogações.
Deve ser só
cansaço de mais um dia, daqueles que nos arrebata e nos faz querer ver no sono
o alívio ou a salvação, um adiamento ou uma solução. Deve ser passageiro, como
eu nessa terra em que tateio o céu e corro entre as estrelas porque as flores são
poucas e prefiro o perfume estelares aos contornos primaveris de qualquer cor.
Deve ser a
sensação de que o tempo não passa ou a de que ele não para. Deve ser só coisa
da minha cabeça essa vontade de sumir. Mas ela passa. Ou some. Sei lá.
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