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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Balada do Companheirismo



Corda e caçamba. Espeto e brasa. Poesia e rima. Companheirismo.
Os duetos que se formam entre almas que parecem se reconhecer é sempre perfeito. As mãos que prometem ser apoio, os pés que traçam caminhos próximos. A voz conhecida que soa como música aos ouvidos. Para todo o mundo, créditos, para essas almas que se reconhecem, a entrega.
A certeza de que se pode contar sempre com alguém é como soneto pronto e acabado: forma simples, ritmada e sublime. A entrega vai desde o primeiro suspiro à última brasa que aquece o coração. Da primeira letra pronunciada ao último movimento do sangue nas veias.
As almas que se reconhecem ao longo da vida se desenham em duetos, tercetos, quartetos e fazem dos silêncios sinfonias. São raízes de árvores que ultrapassam os séculos e tocam os céus, onde a lua tonta com tanta devoção vê estrelas delirantes.
O equilíbrio das embarcações em tempestade, o reavivamento das memórias esquecidas, empoeiradas, que voltam a ter cor e cheiro e som. O reconhecimento de si e das histórias alicerçadas em nós, que é entendida como a pessoa perfeita de todos os tempos das conjugações.
As promessas que se transformam em baladas de um companheirismo jurado por todo o tempo que o relógio permitir e todos os sonhos que couberem num piscar de olhos ou na concha das mãos.
A prece que entoamos com a boca cheia do amargo pão adormecido nas tensões que se tem ao crescer, ao amadurecer, engolidas a seco paulatinamente com dúvidas e incertezas, às vezes intercaladas com os vinhos doces das conquistas e realizações.
A busca por tantos horizontes que derretem com os sóis implacáveis de nossas teimosias diárias. As penas que açoitam a carne e cegam os olhos com as pupilas voltadas para holofotes errados. Tudo é amenizado quando se houve a balada do companheirismo há muito escrita por tantas mãos que se reconheceram.
O limite tênue que separa o sentimento de vazio e o de plenitude, o riso escancarado do choro desconsolado. As tantas voltas que a vida dá e há de dar. Os desejos benfazejos que se sobressaem só porque se ouviu a canção conhecida quando as mãos pareciam sós e desatinadas.
Há em nós um amor maior que todo o sofrimento, que impulsiona para a luta e move-nos na direção de sermos pessoas melhores. Um amor que precisa ser reconhecido por almas semelhantes à nossa, que compreenda, que se encante com os pássaros frágeis e sábios, que distinguem as estações pelo nascer do sol e sussurre aos nosso ouvidos um “você não está só”.
Há em nós a necessidade de contar com quem quer que seja que conheça os abismos que nos amedrontam, que vaguem por cidades desertas nas madrugadas geladas, que celebrem nossos desamparos e nos ergam ao final do dia em brindes de vinho tinto encorajadores.
Há a necessidade de repartirmos nossa sede e nossa fome e aquilo que nos é indivisível: nossa essência. E é nesse momento que ousamos compor a música de nossas vidas. A balada do companheirismo que será cantada quando tudo for silenciado. E que nos dirá mais de nós do que toda boca possa ousar.
É porque dividimos o que nos é indivisível que saberemos nos encontrar. Saberemos como nos chamar. Saberemos ser presentes no presente, vindo de um passado ancestral, traçando futuros (im)previsíveis e esperançosos. Teremos, ao ouvir nossa música-promessa, a coragem para seguir.

Caminharemos lado a lado seja em labirintos ou vales, colheremos flores, descansaremos nas sombras. Reconheceremo-nos. E todas as respostas possíveis serão encontradas ou nem mais serão necessárias, porque pelo companheirismo saberemos que há com quem contar. 

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