Os duetos que
se formam entre almas que parecem se reconhecer é sempre perfeito. As mãos que
prometem ser apoio, os pés que traçam caminhos próximos. A voz conhecida que
soa como música aos ouvidos. Para todo o mundo, créditos, para essas almas que
se reconhecem, a entrega.
A certeza de
que se pode contar sempre com alguém é como soneto pronto e acabado: forma
simples, ritmada e sublime. A entrega vai desde o primeiro suspiro à última
brasa que aquece o coração. Da primeira letra pronunciada ao último movimento
do sangue nas veias.
As almas que
se reconhecem ao longo da vida se desenham em duetos, tercetos, quartetos e
fazem dos silêncios sinfonias. São raízes de árvores que ultrapassam os séculos
e tocam os céus, onde a lua tonta com tanta devoção vê estrelas delirantes.
O equilíbrio
das embarcações em tempestade, o reavivamento das memórias esquecidas,
empoeiradas, que voltam a ter cor e cheiro e som. O reconhecimento de si e das
histórias alicerçadas em nós, que é entendida como a pessoa perfeita de todos
os tempos das conjugações.
As promessas
que se transformam em baladas de um companheirismo jurado por todo o tempo que
o relógio permitir e todos os sonhos que couberem num piscar de olhos ou na
concha das mãos.
A prece que
entoamos com a boca cheia do amargo pão adormecido nas tensões que se tem ao
crescer, ao amadurecer, engolidas a seco paulatinamente com dúvidas e
incertezas, às vezes intercaladas com os vinhos doces das conquistas e realizações.
A busca por
tantos horizontes que derretem com os sóis implacáveis de nossas teimosias diárias.
As penas que açoitam a carne e cegam os olhos com as pupilas voltadas para
holofotes errados. Tudo é amenizado quando se houve a balada do companheirismo
há muito escrita por tantas mãos que se reconheceram.
O limite tênue
que separa o sentimento de vazio e o de plenitude, o riso escancarado do choro
desconsolado. As tantas voltas que a vida dá e há de dar. Os desejos benfazejos
que se sobressaem só porque se ouviu a canção conhecida quando as mãos pareciam
sós e desatinadas.
Há em nós um
amor maior que todo o sofrimento, que impulsiona para a luta e move-nos na
direção de sermos pessoas melhores. Um amor que precisa ser reconhecido por
almas semelhantes à nossa, que compreenda, que se encante com os pássaros frágeis
e sábios, que distinguem as estações pelo nascer do sol e sussurre aos nosso
ouvidos um “você não está só”.
Há em nós a
necessidade de contar com quem quer que seja que conheça os abismos que nos
amedrontam, que vaguem por cidades desertas nas madrugadas geladas, que
celebrem nossos desamparos e nos ergam ao final do dia em brindes de vinho
tinto encorajadores.
Há a
necessidade de repartirmos nossa sede e nossa fome e aquilo que nos é indivisível:
nossa essência. E é nesse momento que ousamos compor a música de nossas vidas. A
balada do companheirismo que será cantada quando tudo for silenciado. E que nos
dirá mais de nós do que toda boca possa ousar.
É porque
dividimos o que nos é indivisível que saberemos nos encontrar. Saberemos como nos
chamar. Saberemos ser presentes no presente, vindo de um passado ancestral,
traçando futuros (im)previsíveis e esperançosos. Teremos, ao ouvir nossa música-promessa,
a coragem para seguir.
Caminharemos
lado a lado seja em labirintos ou vales, colheremos flores, descansaremos nas
sombras. Reconheceremo-nos. E todas as respostas possíveis serão encontradas ou
nem mais serão necessárias, porque pelo companheirismo saberemos que há com
quem contar.
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