Fixei meus pés
no chão. Fiquei firme. Firme para dar vazão ao pensamento. Para a cabeça que
vive na lua, é preciso uma raiz bem forte para que o voo tenha fim e tudo volte
a seu lugar.
Abri uma caixa
que carrego no peito e deitei-me dentro dela, cobrindo-me com meus sentimentos,
ofuscando-me com a luz de cada um deles, optando por segui-los cegamente.
Abandonei a
razão em um canto. Deixei-a em companhia da lógica que a fantasia evita, que a
vida dispensa. Esvaziei-me de toda consciência por alguns instantes,
desfrutando apenas do sabor do vento, do toque macio da manhã, do som dos raios
de sol desabrochando as flores teimosas no inverno.
Prometi não
mais cruzar os braços. Diante de nada. A apatia, amarelada, não cai bem como
aquarela para pintar as versões finais dos esboços de felicidade que tracei.
Comparei minha
vida a uma bolha de sabão e descobri que a leveza e a brevidade caminham de
mãos dadas e que cabe a mim permitir mais cores, mais voos, mais matizes.
Decidi romper
a inércia. Andar com os cabelos ao vento. Assoviar a música preferida. Correr
com o cachorro. Pular dentro da piscina. Rasgar o papel de figurante que
aceitava com gratidão para escrever, eu mesma, os rumos da minha história.
Fiz uma lista
de coisas que comecei e nunca terminei. Analisei cada uma delas e ficou patente
que os planos mais bem sucedidos nem sempre foram cuidadosamente pensados desde
o início, mas que eles precisaram ser finalizados. Talvez os resultados mais
surpreendentes ainda estejam engavetados, à espera não de um milagre, mas de
uma atitude. E darei o meu melhor a cada um desses planos estacionados no
tempo.
Resolvi
decorar. Comecei pela música favorita, depois pelo trecho de livro favorito, e,
então, o poema. Há de se ter arte na vida! Há de se saber bem no coração aquilo
que nos agrada, que nos faz bem. E assim, não só saberei de cor tudo aquilo que
me encanta, mas decorarei minha vida com essas paisagens sutis de tons quentes.
Guardarei, de cor, no coração todo o fascínio que o simples me desperta.
Recitei versos
ao luar, ao meio-dia, ao meio da tarde, no meio da rua ou no quarto trancado.
Rimas ricas ou pobres, autorais ou cópias fiéis, mas falei aos quatro ventos de
amor e de paz. Recitei linhas de Neruda e Plath, de Quintana e Wilde e as
confundi com as minhas linhas, aquelas que trago na palma das mãos, escritas
com tinta, mas que respingam meu sangue.
Aprendi coisas
coma minha xícara de café. Quente demais não dá pra tocar. Se esperar demais
esfria. Meio cheia, meio vazia. Linha tênue de separações, sutilezas de humores
e visões e um mundo entre o gosto e a língua até que se toquem e formem um
outro mundo de sensações e sabores.
Tagarelei
sandices conscientes e seriedades frívolas. Tateei o incompreensível em duetos
sentimentalíssimos e em binômios de palavras antônimas que me cabiam
perfeitamente, assumindo que minhas ideias equilibram-se à medida em que me
desequilibro e consegui chegar perto do que chamam de paz.
Posicionei-me
firme. E adotei essa como a mais nova e sólida palavra de meu castelo de ideias
abstratas. Firme. Se algo pode significar as mudanças, que seja por sua maior
característica, a firmeza, então... que seja firme.