De pequeninas mãos brancas a menina de cabelos
escuros corre atrás de borboletas no jardim.
Quem a observa tem quase certeza de que
existem mais borboletas em sua imaginação do que entre as flores.
O som da risada ecoa e faz ritmo com um veio
d’água que passa perto. Barulho de criança sempre enche todos os espaços e com
ela não seria diferente.
A pequena de pele clara prefere esconder-se
atrás das folhas de um verde mais escuro, na sombra, esperando o sol se encoberto
pelas nuvens. Não que não goste do calor, mas porque gosta de olhar para o céu e
a sua absurda beleza infinita circundada de azul.
Ela sabe que as nuvens não são de algodão. É
uma das poucas crianças a ter certeza que as nuvens são sonhos que vão se aglomerando
sobre nossas cabeças. Eles ficam no alto não para nos mostrar que são
impossíveis ou inatingíveis, mas dizer que são divinos. Que nos elevam na sua
busca e nos deixam lá, no céu, quando são realizados.
Ela também sabe que muitos desses sonhos passam
da hora. Por isso eles escurecem e se derramam. A chuva é o precipitar dos
sonhos não realizados. É o reconhecimento de que desistimos, de que tentamos
pouco, de que preferimos nos fixar na terra. E a chuva é isso: é a volta dos
nossos sonhos para a terra.
A menina de olhos curiosos que fita o céu sabe
bem onde coloca os seus sonhos: eles são os guias de seus passos pueris. Quem
sabe será uma princesa? Quem sabe habitará histórias ou as contará?
Para os sonhos que ainda não tem certeza,
reserva-lhes a fronha do travesseiro e dorme sobre eles todas as noites. Para
aqueles sonhos não realizados – não os dela! – ajunta as gotas em dias de chuva
e coloca num aquário: tem esperança de que seus peixinhos os deixem coloridos e
que eles voltem para o céu, arrancando sorrisos e suspiros.
A menina de mãos pequeninas já é colecionadora
de sonhos e sonha chegar muito longe, correndo atrás de cada item novo para a
sua coleção.
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