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quarta-feira, 7 de maio de 2014

A Flor e o Espinho


Gostava de usar vestidos. Os tons claros eram os preferidos. Gostava da sensação de leveza. Gostar de pensar que como a barra da saia que girava, ela flutuava. Em dias de sol branco, vento brando e cantos azuis de pássaros multicoloridos ela saía para caminhar por trilhas que não levavam a lugar nenhum.
Às vezes, como se fosse filha de Afrodite, ornava a fronte com rosas. As mesmas rosas que perfumavam seu quarto e que a lembravam de dores passadas.
Como todo mundo ela tinha as suas dores e como todo mundo ela procurava velá-las e, pra isso, criava mil fantasias. A que melhor lhe cabia era, de fato, a das rosas.
Ela comparava as suas dores com as flores que mais gostava e cultivava. Para elas seus conflitos internos eram caminhos forrados com as flores e ela seguia firme a cada passo. O coração doía, mas entendia que a dor era como andar sobre rosas perfumadas.
A cada passo sentia-se os espinhos, a dor fina deles entrando e rasgando a carne. Sentia-se o pulsar do sangue quente escorrendo pela pele machucada. Sentia-se uma vontade imensa de chorar.  Mas o perfume das rosas não deixava as lágrimas escorrerem. O doce perfume,  tão intenso, tão inebriante, tão alegre, era capaz de transformar a dor em coisa passageira, em situação suportável.

Assim, enfeitada com rosas de várias cores ela se escondia em sorrisos, que não eram falsos, posto que eram reflexos da alegria maior de alguém. Mas no fundo, bem no fundo, ali dentro, onde ninguém a via, morava uma dorzinha chata, um espinho que não conseguia arrancar... era quase de estimação.

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