A cabeça girava mais que um girassol nas
tardes alaranjadas de verão. Os seus sóis eram as ideias. Preferia o silêncio
turbulento de suas reflexões às tagarelices intermináveis e vazias.
Fazia do ato de pensar o seu esporte. Passava
horas em lugares distantes, por mais plantada que estivesse no chão. Chegava a
fazer parte da paisagem de tão comprometida com suas elucubrações. As noites
eram combustíveis para suas ideias febris e sedentas de respostas e elos
perdidos.
Ao longo de tantas madrugadas o pensar já se
havia transformado em atividade terrível: tirava-lhe o sossego, o sono, a
calmaria e conduzia a passos lentos, mas contínuos ao cansaço.
Pouco a pouco o gosto pela solidão aumentava,
assim como o apreço por certa ponta de tristeza e desapontamento observados
pelas janelas abertas de suas reflexões. Chegava a ser movida pela vontade de
não pensar, de poupar-se à tarefa que lhe desgastava pelas madrugadas sem fim.
Imersa em si mesma já sentia um penar no ato
de pensar. Muito maior, é verdade, se era chamada a expor-se. Não sabia mais em
que medida deveria manter seus pensamentos soltos. Prendê-los e não mais pensar
seria uma saída, mas, sobre isso, era preciso pensar.
Estava feito: estava condenada a si mesma,
círculo vicioso do pensar (até em não pensar), de repensar e de se alterar,
fluida como as próprias ideias, leves e confusas, emaranhadas e dispersas,
vigorosas e tênues, possíveis ou insanas.
Pensava. Voava. Abria-se em si mesma e se
recolhia com as asas maiores, capazes de voos longos e cada vez mais perto do
sol: sabia que não cairia, suas asas não eram com as de Ícaro, mas como as de
Ísis, que humildemente sempre se lembrava de todos os começos.
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