(O que se sente depois de ler Vinícius de
Morais, ouvindo Chico Buarque)
Somos como quem ouve uma velha canção conhecia
que toca ao longe e que parece se aproximar com o vento. Minhas palavras
presentes estão para seus ouvidos como as canções passadas estão para o vento:
saudosas e quase inseparáveis.
É certo que já não dizemos mais as mesmas
coisas. É certo que as promessas não precisam mais ser declaradas solenemente
por nossas vozes. Já se fizeram por demais conhecidas e agora estão apenas
sendo cumpridas – como se isso não bastasse!
O que temos são fragmentos: do que somos e do
fomos, com leves esboços do que sonhamos (e não ousamos?!), de repente, porque
não pensamos que as palavras, assim como as canções, envelhecessem um dia. Mas
elas envelhecem. Rápido. Demais. Implacáveis.
Como o poeta que se atreve a atravessar os
séculos, resta-nos o pedido de perdão pelos de
repentes não aproveitados. E haja perdão para ser dado. E haja palavras
para serem relidas, reditas. E haja silêncio para ser rompido. Mas não há mais
tempo. Cadentes, as horas ruíram e os minutos esfacelaram-se.
Das horas que passamos às nossas sombras de
gestos e passos divertidos só nos sobrou os perfumes das flores do caminho, dos
sorrisos bebidos em goles enormes, findando em porres de alegria sincera e
espontânea.
Herdamos muito! Herdamos lembranças cheias de
graça, de indizíveis felicidades doces que nos servirão de gotas melancólicas
em nossos cafés amargos no fim de nossos dias. Herdamos algo entre o açúcar e o
afeto, aquela coisa usada por outro poeta para fazer o doce preferido para ver
se a vontade de ficar prevalecia. Não prevaleceu: os passos que trêmulos
brincavam de fugir, fugiram. Herdamos a ternura! É assim que chamamos essa
lembrança saudosa que vem com a música no vento...
Voltamos ao início. Voltamos à música! E agora
já sabemos não o seu nome, mas o que ela representa: ternura! Um sossego que
transborda pela certeza de seguir sendo mesmo quando não é. Uma calma que
invade as madrugadas mais agitadas para confortar. E o silêncio, em si mesmo,
passa a bastar.
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