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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Ternura



(O que se sente depois de ler Vinícius de Morais, ouvindo Chico Buarque)

Somos como quem ouve uma velha canção conhecia que toca ao longe e que parece se aproximar com o vento. Minhas palavras presentes estão para seus ouvidos como as canções passadas estão para o vento: saudosas e quase inseparáveis.
É certo que já não dizemos mais as mesmas coisas. É certo que as promessas não precisam mais ser declaradas solenemente por nossas vozes. Já se fizeram por demais conhecidas e agora estão apenas sendo cumpridas – como se isso não bastasse!
O que temos são fragmentos: do que somos e do fomos, com leves esboços do que sonhamos (e não ousamos?!), de repente, porque não pensamos que as palavras, assim como as canções, envelhecessem um dia. Mas elas envelhecem. Rápido. Demais. Implacáveis.
Como o poeta que se atreve a atravessar os séculos, resta-nos o pedido de perdão pelos de repentes não aproveitados. E haja perdão para ser dado. E haja palavras para serem relidas, reditas. E haja silêncio para ser rompido. Mas não há mais tempo. Cadentes, as horas ruíram e os minutos esfacelaram-se.
Das horas que passamos às nossas sombras de gestos e passos divertidos só nos sobrou os perfumes das flores do caminho, dos sorrisos bebidos em goles enormes, findando em porres de alegria sincera e espontânea.
Herdamos muito! Herdamos lembranças cheias de graça, de indizíveis felicidades doces que nos servirão de gotas melancólicas em nossos cafés amargos no fim de nossos dias. Herdamos algo entre o açúcar e o afeto, aquela coisa usada por outro poeta para fazer o doce preferido para ver se a vontade de ficar prevalecia. Não prevaleceu: os passos que trêmulos brincavam de fugir, fugiram. Herdamos a ternura! É assim que chamamos essa lembrança saudosa que vem com a música no vento...

Voltamos ao início. Voltamos à música! E agora já sabemos não o seu nome, mas o que ela representa: ternura! Um sossego que transborda pela certeza de seguir sendo mesmo quando não é. Uma calma que invade as madrugadas mais agitadas para confortar. E o silêncio, em si mesmo, passa a bastar.

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