A menina curiosa, de olhos vivos, aos olhos que
a viam parecia pequena, mas aos olhos que a enxergavam ela se mostrava grande,
imensa, radiante e viva.
A menina esperta era habitualmente feliz, mas
deixou-se abater por uma leve tristeza. Mesmo quando sorria, seu coração doía. Ela
não sabia muito bem o que era isso, mas quem a enxergava sabia: era o seu
crescimento.
Crescer. Quando temos 12, 13, 14 anos parece
que tudo o que nos importa é crescer. Queremos ter um-metro-e-oitenta. Queremos
ter 18. Depois queremos ter 21. Depois, com toda certeza vamos querer voltar ao
tempo em que desejávamos crescer.
Curiosa essa nossa aventura pela vida... Tudo o
que buscamos gira em torno do crescimento. Talvez esse seja um dos verbos mais
bonitos. Talvez ele combine muito bem com amar e viver.
Crescer... Aumentar de tamanho... E sobre isso
penso muito! Penso que crescer é ir em direção ao céu e isso não é só espichar,
passar de um metro e muito (ou pouco) de altura. É muito mais do que isso!
Crescer é expandir-se! Deixar que o corpo pare no tamanho que ele quiser, mas a
alma, ah, a alma vai voar leve e infinita!
Enquanto o céu for azul, os olhos serão
janelas, serão portas, serão passagens secretas rumo a todo o mundo (quem sabe
Nárnia?!) que está lá fora e queremos descobrir.
Os olhos são aqueles pássaros corajosos e
destemidos que querem pousar na linha do horizonte, na linha do infinito. É um
misto de Fernão Capelo Gaivota, que não teme usar as asas que tem e quebrar
todos os paradigmas, com um dos estudantes de Hogwarts que se descobre entre
livros e magia!
E a vida é magia: é a magia de se saber viver. É
a magia de se saber colocar diante de todos os obstáculos e contorná-los e
vencê-los e apreendê-los, porque eles passam a fazer parte de nós, de nossa
história e são mais um dos elementos que nos empurram no rumo do céu, que está
longe de ser nosso limite.
Crescer, pequena, é saber-se maior todos os
dias pelo simples fato de tentar. Não é tarefa fácil. Não é tarefa indolor. Não
é tarefa para qualquer um. Todos podem acordar-estudar-trabalhar-comer-dormir e
assim encerrar a sua jornada diária, mas viver é ir além. Viver é ousar. É saber
onde ir. E também a hora de parar, de ser paciente.
João Cabral de Mello Neto nos diz “que com a
idade nossas certezas ficam um tanto duvidosas”. Sábio homem! Nunca estaremos
satisfeitos, nunca teremos tantas certezas, nunca seremos absolutos, mas também
nunca seremos finitos.
Pequena, crescer é ser! É permitir-se caminhar
pelo prazer de trocar passos ou de inventar novas cores para os passos que
sabemos que devem ser dados mesmo quando não queremos.
Crescer é, às vezes, ser invisível, outras
tantas é fazer-se visível, mas é, sobretudo, ter a exata ideia de que seu lugar
no mundo, na vida das pessoas, é sempre cativo e que cresce na mesma velocidade
que você.
Crescer, menina, é VIVER cada dia de uma vez,
aproveitando, sorvendo, deliciando-se com cada gota de felicidade que lhe é
concedida desde o nascer ao por do sol.
Então, cresça, menina! Lança mão de todo o seu
fôlego e voa! Suba rumo ao infinito e faça parte dele, cresça! Não caiba em si!
Deixe que sua luz ilumine todos que a rodeiam e torne-se cada vez mais forte,
mais viva, maior!
Talvez a menina que se perdia nos livros, que
se misturava aos personagens, às letras e se vestia de entrelinhas não
entendesse muito bem que estava crescendo, mas quem a conhecia sabia de seu
processo.
Talvez, se a menina se olhasse no espelho veria
o seu sorriso, mas enxergaria sua alma leve, muito maior que seu
um-metro-e-pouco de altura. Talvez, ela se descobrisse muito mais linda do que
era, mas isso depende só de seus olhos: ela não precisa só se ver, precisa se
enxergar maior e tateando o infinito de descobertas de si e do mundo.
*** Para a querida Gabi Almeida, aluna, amiga, companheira, consultora de livros interessantes, curiosa, questionadora, sonhadora e leve ***
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