Visitas da Dy

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Moça do Espelho




No meu espelho mora uma moça
E eu a olho todos os dias
Às vezes não a enxergo
Só a vejo.
E sempre me questiono:
O que tem essa moça?
Quantas tristezas moram em seu olhar?
Quantas alegrias escorrem de seu riso?
Quem é capaz de lhe arrancar um sorriso,
Fazê-la dançar pelas nuvens,
Andar nas pontas dos pés,
Brincar de não ser ela,
Sair dessa moldura?
Pra quê ela se pinta?
Entre delineadores e batons,
Olhos e bocas e rostos....
Qual papel ela interpreta?
Em quantos cenários ela já viveu?
Será ela Isolda, Julieta ou Capitu?
Conserva traços da bela Sibel Vane?
E nesses olhos cor de outono,
Não haveria espaço para sonhos de verão?
Viveria ela num constante inverno
À espera da aconchegante primavera?
Aquela moça do espelho queria ser divina
Queria morar lá no sétimo céu,
Onde os pecados são todos perdoados
Queria não andar mais com os pés no chão,
Mas flutuar entre os ventos frescos dos fins de tarde.
Queria sempre poder fechar os olhos
E ver estrelas cadentes
Se jogando do céu para morarem na terra
Como quem foge, intrépidas,
De um amor jurado eterno.
A moça do espelho queria ser atriz
Ver entrar no seu palco
Alguém que lhe preenchesse a vida
Mas seus olhos são fundos
E nunca se enchem...

domingo, 16 de setembro de 2012

Seu Riso




Olhando tudo o que tenho,
Acredito que nada mais me falta.
A não ser o seu sorriso,
Que eu queria ter.
Queria poder guarda-lo numa caixinha
Dessas de veludo preto,
Onde se guardam aquelas joias.
Aquelas pedras que acreditam ser tão valiosas.
Eu guardaria ali um pouco de você.
Seu riso solto, lançado no ar,
Aquele dado no meio da tarde,
No meio da correria.
Aquele que de tão vivo faz a gente rir também,
Me faz desligar do mundo.
Queria poder guardar o exato momento
Em que seus olhos sorriem,
E enchem os meus de felicidade.
Queria guardar aquele riso de cumplicidade pueril,
Aquele que damos quando não há muito motivo,
Mas que parece ser dado por algo escondido.
Queria guardar a moldura bonita que fica no seu rosto
Cada vez que solta um riso frouxo,
Cada vez que deixa sair um hino de alegria,
Que se espalha pelo ar,
Que me chega aos ouvidos,
E que me faz gargalhar.

sábado, 15 de setembro de 2012

Tentativas




Estou tentando...
Tentando não pensar,
Não penar.
Não ligar, não falar...
Não Fazer nada que possa,
Ainda que remotamente
Lembrar você.
Não é por nada
(em especial)
É só pela dor.
(às vezes dói lhe ver)
Pela ausência
(mais fria e cortante na madrugada)
Pela falta que me faz
Pelo vazio que fica
Ali no sofá da sala.
Pelo livro que falta na estante,
Aquele que pegou no último dia,
Quando prometeu voltar
E que ainda não veio.
Estou tentando...
Tentando ser forte,
Guardar as lembranças.
Apagar as manchas de café
Que ficaram na toalha da mesa
Que desastrado deixou cair.
Estou tentando não sentir
Aquele seu cheiro
Entranhado em meu travesseiro.
Estou tentando não contar os dias,
Não esperar seu regresso,
Não criar falsas esperanças
E nem a tal da expectativa.
Mas ao menor esquecimento
O telefone toca
E lá se vai o meu sossego,
E lá se vai a minha paz...
Abro meu sorriso mais bonito
E logo digo: outro dia eu o esqueço!

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Arte Contemporânea




Cores!
Jogos de luz...
Entre trevas e claridades
Entre séculos e técnicas
Tintas, esboços,
Grandes maravilhas,
Olhos caídos sobre um colosso!
Filas intermináveis,
Antiguidades e modernidades
Livros e cafés
Distâncias e proximidades
Toda a sorte de gentes!
Toda sorte de beleza entre pinceladas,
Cortes e recortes,
Pendurados e guardados
Entre prédios cinzas e gigantes,
Disfarçados, imponentes,
Entre sentimentos fascinantes.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Sob o Céu




De repente o cinza foi fechando
Fez-se ébano.
A aparente calmaria
Foi perturbada.
Agitações lá fora e aqui dentro.
O chão distanciava-se de meus pés
Na boca, o coração já batia.
Do encontro de nuvens orgulhosas
Raios surgiam fulminantes
Contra toda escuridão
Mais que isso,
Rompiam meu limite de sossego
E da profunda agonia,
Era quase um caos,
Não fosse um sentimento de euforia.
Lá fora os raios,
No meu peito o trovão:
Batidas aceleradas, ruidosas.
Acima de minha cabeça
As plêiades sorriam
Lua crescente, risonha,
Esperava por desejos secretos.
Estrelas pequeninas
Vagavam entre meus medos.
Lá me baixo alguém se perdia
Alguém dançava na chuva
Alguém misturava lágrimas e água
Bebia da própria dor.
Lá fora raios
Aqui dentro trovão
Lá o breu
Aqui só paixão
Lá em cima o céu
Entre tudo isso o tempo.

Relicário




Guardei sua foto, sorriso raro
Junto com o que tenho de mais caro:
Minhas lembranças.

(Coloridas, como sonhos da infância)

Em tempos de saudade
Recorro a ela em velocidade
Penduro-a num colar
Pingente a
B
   A
      L
         A
         N
     Ç
  A
R
Relicário sagrado,
Emoldurado e dourado
Onde preservo o meu tesouro
Mais valioso que ouro.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Calmaria




Agora tenho os pés longe do chão
Voo em grande solidão
Aqui, tudo é calma,
Conforto para a alma.
Conto nos dedos
Todos os meus medos:
E já são tão poucos...
Embora pareçam loucos.
Ainda penso em escrever no seu muro,
Mas pareceria um grito e quero um sussurro.
Nada está mais em seu devido lugar.
O tempo passa cada vez mais devagar
É como se eu pudesse ver um pouco de tristeza
Em cada porção de beleza.
Mas as coisas não ficarão
Sempre assim, não!
Nada que é muito bom se demora,
A felicidade, às vezes, insiste em ir embora.
É como almoço de domingo,
Sábado que já é findo,
Compras na livraria,
Sonho de padaria,
Doce caminho da vida...
Passos de chegada, num mesmo ponto de partida.

O Pior de Nós




O pior de nós não é ajuntar os cacos,
Não é cortar os dedos,
Não é se perder entre peças
Que deveriam se completar,
Sem conseguir, sequer, encaixa-las,
Perder-se em meio ao quebra-cabeça.
O pior de nós não está no medo que sentimos,
Na palavra não dita,
Na chuva que não veio.
O pior de nós não está no amor perdido,
Não são lágrimas derramadas em vão,
Não são os sonhos deixados pelo caminho.
O pior de nós está no desamor,
No sentimento de vazio,
No breu que temos no peito,
Sombras de quem nunca amou.

Os versos que são seus




Pego na caneta

(Para meus dedos,
Que são de outra época,
Ainda são pena e nanquim)

Logo fecho os olhos
Gosto de imaginar as letras,
Cada palavras.
Sinto-as saindo de mim:
Como um filho que sai das entranhas.
Ah, essas palavras...
Quebram meu silencio,
Por mais silenciosas que fiquem sobre o branco...
Transformam minha paz em inferno,
Pelo não dito.
Transformam meu inferno em minha paz,
Pelo que escrevo e penso ser lido,
Ser conhecido, ser sentido.
Essas palavras vão se lançar no  branco papel,
Marcando-o com sua cor negra

(E por que não uso outra tinta?)

Sim, essas palavras que saem de mim
Conhecem, por dentro, cada milímetro de sentimento

(Não é de um simples “ouvir falar”...
Elas, sim! Sabem tudo! Sentiram tudo!
Fieis companheiras de desatinos e sonhos vãos!)

Essas palavras vão ganhar vida.
Intrépidas se lançarão no papel,
Como se saltassem de um trampolim,
Jogando-se num azul incerto
De uma piscina quase sem chão
As minhas palavras deixarão de ser minhas.
Passarão a ser suas.
Irão lhe contar partes do que sabem.
As outras partes elas esconderão,
Como segredos escondidos
Charmosamente perdidos em um vão,
Entre o dito e o não dito,
Entre a certeza e o medo,
Entre o que se quer dizer
E o que a boca, consciente, cala.
Elas assim o farão porque são tímidas,
São fieis aos dedos que lhe deram cor,
Livrando-as do transparente vestido
Que desfilavam no pensamento.
Elas serão suas.
Irão lhe fazer companhia.
Trarão alento pra sua agonia,
Porque lhe falarão do que é belo,
Falarão do que é calmo,
Por mais que tenham saído daqui de dentro,
De onde tudo é vulcão...