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quarta-feira, 3 de março de 2021

Bruxa do Espelho

 




Chamaram-me bruxa.

Desejaram-me a forca, o fogo, o ordálio.

Tempos outros, assustadores, severos.

Não lembro quantas vidas tive

Tampouco em quantas queimei,

Mas, entre os escombros dos séculos sobrevivi.

Chamaram-me louca.

Prenderam-me. Esconderam-me

Enclausurada cantei para as sombras.

Fui livre dentro de mim.

Mulher! 

Concebida tantas vezes com o mesmo sexo

A sina. A raiz. A força de (r)existir.

Dizem ser azar

Ter tantas vidas femininas,

Mas atravessam-me tantas sortes

Que os azares pouco importam.

E se o espelho quebrar?

Ganho novos reflexos.




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