Fotos: Detalhes do prédio do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Évora e Igreja de Santo Antão, na Praça do Giraldo
Sob o signo da cruz, o fogo, a dor, a língua afiada, o ranger de dentes, tudo no meio do mundo, no meio da praça.
As paredes tão brancas de hoje não deixam vestígios do passado, mas os gritos ainda ecoam.
A pesada madeira do teto ainda é imponente e esmaga pensamentos e sufoca mesmo as celas sendo, agora, arejadas e livres de portas.
Mas, é na porta do gabinete-mor que a fechadura mais cruel ainda sobrevive e, olhar pra ela causa arrepios.
Da porta do antigo tribubal, o largo se abre e escorre pela rua na qual, ao final, a praça se estende. A igreja se lança rumo aos céus.
A fonte mais recente me acalma e sua água molha meu rosto com as lágrimas tão antigas quanto os desesperados infames ali acesos há séculos.
A praça é calmaria, mas, olhando bem, o silêncio nunca é pleno. Ele sussurra choros, preces, pragas e tem um estalar de brasas.
O gato preto me encara na quase meia-noite. O vinho me acompanha. É uma solidão ancestral de quem sabe que o destino está em uma poesia lá, do outro lado do oceano, próximo das raízes dessa vida, mas, que ainda não chegou.
O peso das paredes daquele tribunal ainda está sobre meus ombros. Encarar essa praça ainda dói, mas há um perdão no ar: a história me dá um respiro e uma coragem. Atravessei mares por ela. É preciso compreender o tempo.
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