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segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Retalho




Eu quis cantar pra você.
Quis recitar versos ensolarados.
Quis amarrotar a sua camisa recém-passada,
Ali, na atropelada manhã, pausando sua correria,
Ressignificando seu atraso.
Eu quis ser a pirata que roubava seu tempo,
Que escalava o seu mastro,
Hasteando-me sua bandeira.
Quis ser a tigresa de unhas negras,
De unhas vermelhas, de unhas afiadas,
A que liberta os leões,
Canta Caetano e sonha rocks.
Quis tocar sua música preferida,
O seu instrumento afinado (com o meu).
Quis invadir a sala de jantar,
Colocar-me à mesa, sobre(a)mesa,
Seu quase-doce preferido.
Seu pedido de Natal, promessa de Reveillon,
Sua farra no carnaval, seu calendário completo,
Mas com dias desvairados, sem sequencia,
Sem cuidado, sem data marcada.
Quis amá-lo breve e intensamente.
Quis ser passageira em seu corpo-caminho.
Quis ser sua uma vez e nunca mais.
Quis experimentar. Quis gostar. Quis dispensar.
Quis até não pensar.
E eram tantos quereres...
Eram ocupações de nascer e morrer das horas.
Eram até preocupações.
Mas ao cansaço das imaginações, adormeci.
Ao tempo das esperas por essa ou aquela vez,
Sucumbi ao “deixar-se ir”.
Por um tanto qualquer de um vai e vem,
Ninguém foi, de fato, até onde podia ir.
Lambi, então, o frio aço,
Correu o vermelho quente pela língua.
Retalhei muita coisa com punhal sagrado:
Inclusive sonhos. Inclusive amores.
Inclusive desejos. Inclusive nomes.

Retalhei até o que poderia lamentar por nós: você.

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