Meus olhos eram poças d’água
Profundos como um mar sem ondas,
Pouco brandos, muitos mistérios.
A ventania vinha do bater de
minhas pálpebras.
Eu não queria o vento.
Eu não queria o seu balançar:
Causava-me ondas.
Fazia-me escorrer pelo rosto.
Transformava-me em rio,
Mas eu não queria correr.
Eu só queria ficar.
Queria me emoldurar.
Queria saber o que é contemplar...
Meus olhos nunca foram verdes ou
azuis,
Sempre foram café:
Pouco doce, muito breu.
Sem meias medidas, muito calor.
Um quase oceano de navegações.
Ideias flutuantes,
Sonhos perdidos,
Beijos à deriva
E eu entre o mal e a nau:
Segurar nas bordas seria a tábua
de salvação?
Evito piscar.
Evito pensar.
Evito chorar.
Meus olhos são poças.
Pouco rasos, um tanto oblíquos.
Uma pena: não aprendi a
dissimular.
A esse despeito, aprendi a partir
Mesmo quando queria ficar.
E eu já quis ficar.
Hoje, sou filha do vento.
E ele agita meus olhos de adeus
E ele consola o peito meu.
E ele traz a chuva,
Para ninguém notar quando eu transbordar.
Para ninguém saber separar
Quem sou eu e quem partiu.
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