Visitas da Dy

sábado, 9 de setembro de 2017

Seus Olhos



          Agora, tendo o direito à palavra, de maneira mais clara, mais livre, não sei bem o que fazer. Sou como os pés do caminhante: sei que preciso ir, mas pouco importa o caminho. Em nosso caso, sei o que devo dizer, mas já pouco importa.
          Em verdade, foi em um dia como esse que eu saltei seu olhar a dentro e percebi que havia inventado o amor. Não no meu tempo. Bem antes. Não para mim, para alguém que se foi. Não com as letras de meu nome, mas com sons emudecidos.
           Eu era um lapso no espaço-tempo de seu coração. Se é que cheguei a tocá-lo. Fui uma tentativa de se convencer que tudo passa, mas, na borda de seus olhos, isso não estava escrito e eu pulei. Se soubesse que a mim só caberiam as margens, sequer teria molhado meus lábios. Se soubesse que depois do mergulho só viriam as sombras, eu não teria lhe doado tanta luz.
           Não é um arrependimento que me corre, mas uma vontade de interromper os questionamentos. Uma vontade de acolher essas mágoas nos braços, de transforma-las em novidades, de ouvir suas dores pela última vez, calando-as com meu sorriso, mordendo-as para que deixassem de existir.
            Agora que desprendi-me de toda chama que aquecia meu peito quando ouvia seu nome, posso dizê-lo sem que me corram vontades incompletas pelo rosto. Posso até dizer o quanto é lindo ver seu reflexo atrás de um copo, meio disforme, mas completo, de um modo que eu não percebia, embora tivesse me esforçado.
            Em verdade, o que mais gosto em seus olhos é o fato de ter inventado o amor. De tê-lo vivido a seu modo, a seu tempo, ao seu ritmo e de, ainda que dormente, não tê-lo abandonado. Ele está aí, eu sei. Vestiu-se de medo, mas ainda respira.

            Agora que visitei seus espaços mais humanos, olho pra mim. Questiono se conheço o que chamam de amor. E lamento o meu desconhecimento de causa. Talvez, em todos os meus passos eu só tenha conhecido desenganos, só tenha experimentado os contos encantados, mas, em verdade, nunca tenha me deixado encantar. Faltam-me olhos como os seus.

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