Agora, tendo o direito à palavra, de maneira mais
clara, mais livre, não sei bem o que fazer. Sou como os pés do caminhante: sei
que preciso ir, mas pouco importa o caminho. Em nosso caso, sei o que devo
dizer, mas já pouco importa.
Em verdade, foi em um dia como esse que eu saltei
seu olhar a dentro e percebi que havia inventado o amor. Não no meu tempo. Bem
antes. Não para mim, para alguém que se foi. Não com as letras de meu nome, mas
com sons emudecidos.
Eu era um lapso no espaço-tempo de seu coração. Se é
que cheguei a tocá-lo. Fui uma tentativa de se convencer que tudo passa, mas,
na borda de seus olhos, isso não estava escrito e eu pulei. Se soubesse que a
mim só caberiam as margens, sequer teria molhado meus lábios. Se soubesse que
depois do mergulho só viriam as sombras, eu não teria lhe doado tanta luz.
Não é um arrependimento que me corre, mas uma
vontade de interromper os questionamentos. Uma vontade de acolher essas mágoas
nos braços, de transforma-las em novidades, de ouvir suas dores pela última
vez, calando-as com meu sorriso, mordendo-as para que deixassem de existir.
Agora que desprendi-me de toda chama que aquecia
meu peito quando ouvia seu nome, posso dizê-lo sem que me corram vontades
incompletas pelo rosto. Posso até dizer o quanto é lindo ver seu reflexo atrás
de um copo, meio disforme, mas completo, de um modo que eu não percebia, embora
tivesse me esforçado.
Em verdade, o que mais gosto em seus olhos é o fato
de ter inventado o amor. De tê-lo vivido a seu modo, a seu tempo, ao seu ritmo
e de, ainda que dormente, não tê-lo abandonado. Ele está aí, eu sei. Vestiu-se
de medo, mas ainda respira.
Agora que visitei seus espaços mais humanos, olho
pra mim. Questiono se conheço o que chamam de amor. E lamento o meu
desconhecimento de causa. Talvez, em todos os meus passos eu só tenha conhecido
desenganos, só tenha experimentado os contos encantados, mas, em verdade, nunca
tenha me deixado encantar. Faltam-me olhos como os seus.
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