Olhava o relógio
tão fixa quanto uma estrela na imensidão. Sentia e não sabia explicar. Era
longa como as voltas dos ponteiros. Era curto o tempo diante de tudo o que
sentia.
Imensurável
tempo. Imensurável sentimento. Parecia dor de si mesma. Parecia prisão, aquele
corpo que a obrigava ser entre linhas bem determinadas: retas paralelas,
alongadas pernas e braços. Algumas curvas, convite para mãos e toques
aveludados. Era, assim, uma prisão comum como todos os outros corpos que
conhecia. Mas tinha, em si mesma, ganas de liberdade.
Diante do
relógio, sabia que tudo era eterno porque se estendia além do instante marcado
pelos ponteiros e sabia que sentia muito mais do que podia pontuar.
Sorvia da
noite os afagos que desconhecia em realidade. Imaginava-se entre braços, dedos
tocando seus pensamentos enquanto pairava na imensidão da cama envolta de breu.
Imaginava-se alada, acolhida, amada e na melhor de todas as noites, embriagada
de um amor que lhe sobressaía ao peito, selvagem, como seu coração indomável e,
por isso, solitário.
Sentia pena de
si mesma por experimentar a solidão. Amava-se ainda mais por saber-se livre.
Orgulhava-se por conseguir equilibrar-se na valsa que a vida era, com suas
voltas e caprichos e ela ali, ritmada pelos ponteiros marcando um tempo
(in)findo.
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