Visitas da Dy

sábado, 2 de setembro de 2017

Infindável




Olhava o relógio tão fixa quanto uma estrela na imensidão. Sentia e não sabia explicar. Era longa como as voltas dos ponteiros. Era curto o tempo diante de tudo o que sentia.
Imensurável tempo. Imensurável sentimento. Parecia dor de si mesma. Parecia prisão, aquele corpo que a obrigava ser entre linhas bem determinadas: retas paralelas, alongadas pernas e braços. Algumas curvas, convite para mãos e toques aveludados. Era, assim, uma prisão comum como todos os outros corpos que conhecia. Mas tinha, em si mesma, ganas de liberdade.
Diante do relógio, sabia que tudo era eterno porque se estendia além do instante marcado pelos ponteiros e sabia que sentia muito mais do que podia pontuar.
Sorvia da noite os afagos que desconhecia em realidade. Imaginava-se entre braços, dedos tocando seus pensamentos enquanto pairava na imensidão da cama envolta de breu. Imaginava-se alada, acolhida, amada e na melhor de todas as noites, embriagada de um amor que lhe sobressaía ao peito, selvagem, como seu coração indomável e, por isso, solitário.            

Sentia pena de si mesma por experimentar a solidão. Amava-se ainda mais por saber-se livre. Orgulhava-se por conseguir equilibrar-se na valsa que a vida era, com suas voltas e caprichos e ela ali, ritmada pelos ponteiros marcando um tempo (in)findo.

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