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segunda-feira, 3 de abril de 2017

Mabon



*Mabon: celebração celta do Equinócio de Outono, no Hemisfério Sul

Sopra o vento que embaraça o cabelo dela,
Envolta na lógica da ventania
Que desrespeita as faíscas que lhe saltam:
São lampejos de seus pensamentos.
E ainda assim, desregrada, é linda!
É um quadro sem margens:
Desconhece os limites sufocantes.
E ainda assim, ela ousa pousar nas margens,
Nas minhas bordas, nas minhas eiras.
Desafia minhas temporalidades,
Questiona minhas identidades.
E se veste como quem nunca está nem aí.
Como quem nunca está nem aqui,
Como quem ignora as estações.
Mas ela é aquela tarde outonal iluminada:
É aquele balanço da folha caindo.
É o passo cadente de onda do mar.
É cheiro de mato e orvalho pela manhã.
Ela é a visão que tenho na noite
(Que é do mesmo tamanho que o dia):
É o desejo de fogueira de Mabon!
É a mulher que se despe e se veste de névoa
É o anúncio das flores caídas,
Das promessas não cumpridas,
Das noites mal dormidas.
Ela é o arranjo das flores semimortas que ganhou
E o perfume que sozinha exalou.
Ela é colheita e semeadura
E mesmo vestida de lua
Ainda conserva uma armadura:
Não se arrepende das podas pelas quais passou,

E ainda reflete levezas, mas não esconde suas dores.

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