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quinta-feira, 23 de março de 2017

Pelas Costas




Tecia-me sonhos, quase nuvens.
Alimentava-me de sons, canções no amanhecer.
Fui dançarina coreografando as ventanias.
Ergueu, então, muros: limitações inesperadas.
Para escalá-los, não tenho braços.
Para a desistência tendo, mas teimo.
Como Colombo pari mapas:
A volta pelo mundo é caminhada longa.                       
A lentidão dos passos é reflexão.
Enquanto o sol ferve, sobrevivo morna.
Não me abandonam as febres,
Não abandono os poemas.
Não ando em círculos, sou de espirais.
Embora às noites beba minhas próprias lágrimas,
De dia escondo meus ais.
E, se ao caminho não sucumbir,
Se minhas pernas não ficarem dormentes,                       
Abraçarei, sorrateira, suas costas,
Surpresas noturnas e sinceras.
A verdade é que sou feita de encantos
E, mesmo agora que me aquieto num canto,
Mesmo agora que experimento lonjuras,
Sou vento de novidades e frescores.
Sou construção de um porvir.

Se me cabe e sabe o tempo, espero.
E tranço os cabelos como quem trança destinos.

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