Visitas da Dy

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Sob o Mesmo Céu



(Céu de Juiz de Fora, com a crescente do mês de abril de 2017, gentilmente cedida por Saulo Otoni)

(Para ser lido ao som de Ora, de Ludovico Einaudi)



Foram semeados na terra,
Mas sonhavam altos azuis
De tons tão diferentes quanto se pudesse imaginar.
Parecia história de par:
(Ela claridade lívida, ele um quase mar)
Ela, mais lua que menina,
Naquela imensidão imergia.
Doava-se tanto e completamente
Que o plenilúnio era pouco, parecia descontente.
Como quem dança ao som de um piano,
Inquietava os juízos, rodopiando.
Refletida nas vitrines-olhos-retinas,
Experimentava em si o desfazer-se das rotinas.
Brilhava tanto e fielmente,
Que as estrelas, invejosas, eram cadentes.
Ele, melancolias celestes, siderais espaços,
Abria-se para ela desfilar seus passos.
Aclarava-se de azuis tranqüilos,
Aplacava turbilhões quase incontidos.
Eram dele os limites do mundo.
Cabia a ele ser largo e profundo.
E, embora soubesse ser tempestades e trovões,
Rasgava-se apenas para confessar emoções.
Ele era, então, inspiração e platéia atenta,
Era firme, pilar do tempo, mão que sustenta.
Mas sendo ela a lua que paira
E ele o céu inquieto que desvaira,
Couberam-lhes aflições tamanhas
Que não se evitam nem por barganhas.
Ela, de fases, sofreu
Ele, de manha, anoiteceu.
Como se fosse (im)possível um triste desenlace,
Como se histórias delineadas se quebrassem,
Fizeram-se solidões acompanhadas no mesmo tempo-espaço
Ele não abandonou seus azuis, mas tornou-se frio aço.
Ela não abandonou sua claridade, mas diminuiu-se.
Ele ainda a queria (por) bem e perto,
Mas ela não sabia encontrar o equilíbrio certo.
E quando insistiam em romper as agonias,
Ela lhe surgia, bailarina, adiantando o fim do dia.
Ele, descuidado ou insensato, revirava e revivia o passado
Ela, descuidada ou insensata, trazia o peito acelerado.
Parecia uma história de um par..
Da lua-leve-menina-bailarina e seu céu-azul-palco-mar,
Mas ela, que sempre era cheia de alegria
Misturava-se a ele, que a mordia:
Despedaçada, ainda era a mesma menina-contente,
Mas agora só a viam como a lua-crescente.
E ele, talvez de sentimentos parcos,

Não percebia que a deixava em cacos.

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