Visitas da Dy

domingo, 19 de março de 2017

Vendaval




Lá fora a chuva se demora
O eco bate nas quinas do nada.
Eu que já tive ares de fada,
Sou muito diferente agora.
O quadro aqui dentro de mim
Desbotou-se, escorreu nanquim.
Perdi meu batom, meu rímel, minha rima.
Sobraram a falta, o espaço e meu retrato de menina.
O agora converteu-se no depois.
Meu sorriso não ocupa mais a parede:
Onde fiz tantas cores, cinza.
E a chuva lava, mas não cura
A luz cega e não aquece
E sou pouco mais daquilo que o espelho reflete:
Sou traços visíveis e definidos,
Mas também sou o som mudo que incomoda o vizinho.
Calei meu bom dia,
Decretei quarta-feira de cinzas na folia
Encaixotei meus (uni)versos e parti                                                       
Aprendi que a casa é que habita em mim.
O concreto é pó amontoado

E no vendaval, caos.

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