Visitas da Dy

domingo, 24 de abril de 2016

Embarcação




 
Naquele lapso temporal
Em que o ponteiro hesita seguir em frente
Também eu fraquejo
E sem voz, passo às mãos
O direito da exposição.
Debulho todos os meus eus
Todos os passados que condenso nesses dias
Todos os séculos vividos
Todos os seus olhares que já me cortaram
E que ainda me lembro
Porque ultrapassaram, teimosos,
Todas as espirais ancestrais.
Roubo do mundo uma parte do encanto
Que já habitou em nós
E hoje vaga pelos campos.
Não por abandono, mas por necessidade
O encanto que um dia aninhamos
Hoje tenta brotar
E se nada mais temos em comum
Com o tempo primeiro em que nós fomos
É por vago esquecimento
Que meus versos bordados de tinta
Por linhas que não existem
Reavivam e declamam aos seus olhos.
Se ainda amamos a noite, se contamos as luas
É porque não nos perdemos
E, por minhas mãos que falam em versos,
Seus olhos hão de ouvir
E meu peito será o fim da escuridão,
Será o cais de sua nau
Recebo-lhe de volta,
Minha embarcação.

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