Naquela manhã
o coração estava mais agitado que o de costume.
Poderia ser
dia de rock, de pop, de jazz, mas era só um dia de aeroporto, passaporte e
avião. Um dia de viagem quase comum, quase igual a todos. Quase. Não fosse a
mudança de ares, de fuso, de continentes.
Era o dia em
que toda bagagem experimentava três pesos e duas medidas: o seu peso comum, de objetos
simples amontoados organizadamente, contabilizados em lista e em ordem de
importância, resumindo na mala tudo o que não poderia faltar. O peso da espera,
de areia de praia engarrafada em ampulheta, de sonhos antigos e guardados,
cuidadosamente alimentados, aguardando o momento de tomarem corpo. O peso da
ausência da pessoa-felicidade-que-completa, que não faz mais parte dos planos,
embora tenha sido parte fundamental de outras tantas alegrias, que embalou esse
momento, ajudando a embrulha-lo e que não estará lá nem para o embarque nem
para o adeus (que já foi dado precocemente). Pesos justos, injustos, reais.
As medidas
eram igualmente complexas e se misturavam. Um tanto já era saudade. Uma saudade
companheira, de onde se vai. Outra saudade antecipada, de onde se sai, das histórias
construídas, do lugar do qual se passou a fazer parte. Um verso e reverso
doido, que só quem sente sabe. A outra era a esperança, essa penetra, que enche
os espaços mesmo sem ser convidada, e fica, mesmo sem ser notada. Ela pouco se
importa com convites. Ela pouco se importa com o que queremos. Simplesmente existe.
E ponto.
Assim,
marcadas pelas lembranças, de malas prontas, pegou o seu pedacinho de amor pela
mão, entrou no táxi e foi para o aeroporto.
A criança se
divertia com o passeio, olhando a paisagem pela janela do banco de trás do
carro, enquanto a mãe tentava, firme, equilibrar-se entre os pesos e medidas de
sua bagagem.
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