Busco, logo me canso. Penso, logo crio asas. Não sei ser ou se sou e
tampouco se quero ou não quero, mas busco. E essa é a chave. Não sei se blues,
balada ou jazz, mas ouço. E tento só fazer o bem, evitar o mal, mas perco-me
entre os parâmetros de bem e mal e engatinho entre os sentidos que pouco se
completam.
Vivo pacificamente, hasteio bandeiras brancas ou coloridas, evito os
conflitos e a moral de minha história é simples: reconheço os mesmos direitos
para todos e não extrapolos os limites. Mas não gosto de limites. E volto a me
prender neles, por eles e fico exausta, como pássaro em gaiola.
Se sou embarcação que abandonou o porto e há muito não sonha em ancorar
em cais, como posso desejar abrir minha coleção de cartas náuticas? Como posso
olhar para as estrelas e não em orientar por elas? Ah, eu que sou um constante
abandono de bússolas e de astrolábios, tento guiar-me pelo som de seus lábios.
Chama-me o nome e eu vou.
Ah, vento que dá em minhas velas, em meu vestido, que levanta a barra de
minhas saias e me induz pelo caminho. Sopre as pétalas das flores. Sopres os
tantos nomes que lhe confidenciei. Sopre todos os bem-me-queres para perto de
mim e afasta todos os males.
Ah, vento que embala as manhãs e as balanças. Que deixa amena a gangorra
vazia onde me sento pra ver findar mais um dia, seja meu companheiro, meu
escudeiro, meu narrador de sonhos, cancioneiro das poesias.
Que eu não me contente com seus alísios e que saiba ser furacão, mas que
a maioria dos meus dias seja de brisa, de calma, de frescor. Que esse
sopro-vendaval-ventania me venha afastar as dúvidas e as abstenções, porque
carrego a flâmula da opinião, da postura, do agir.
Seja a bondade uma constante distante dos meus humores e temperamentos.
Que eu não seja vítima do bem que faço e nem sufoque-me com as possibilidades
que não puder alcançar. E se sufocar-me que encontre abrigo, o alívio. O mesmo
que ofereço, por mais que não o espere. Por mais que não o julgue necessário,
porque todo mundo precisa de um travesseiro à noite e de um colo de vez em
quando.
Que meus espinhos não sejam fatais e nem meu veneno sem antídoto. Porque
lamberei minhas feridas e não quero padecer do meu próprio mal, o que busco é
alívio.
Que não me fujam as palavras que se fecharão em desejos e planos e que elas
me ajudem a formar a moral da história que escrevo. Uma história de quem busca,
inconstante, incansável, uma trajetória a projetar-se.
Seja a minha parte que me cabe aquela de carinhos e sociabilidades que
tenho com as flores, mas muito mais com as folhas outonais, conscientes de que
fizeram seus papeis e agora lançam-se em espetáculos lépidos dos galhos.
Seja a minha parte da moral dessa história aquela que cabe a um
transeunte de si mesmo: que nunca se acha, por mais que busque, mas que não
abre mão das belezas de cada passo dado e de cada sabor experimentado seja doce
ou amargo.
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