Conheço o
silêncio. Já o toquei a ponta dos dedos. Já vesti-me com seus sons mudos. Fiz
dele meu lençol para envolver os soluços que bebi em noites que foram mais
escuras do que deveriam ser.
Entendo o seu
silêncio. Cada palavra não dita. Cada coisa que seus olhos deixaram escapar em
uma lágrima teimosa ou que fugiram pelas molduras dos óculos.
Entendo os
seus silêncios porque já experimentei sabores semelhantes. Não que todos sejam
iguais. O silêncio e a dor do outro é sempre só uma estampa de camisa: vestimos
a camisa, não sentimos o desenho. O silêncio e a dor da gente é tatuagem, que
marca, que acompanha, que revela, mesmo sem palavra dita.
Compreendo o
blues triste que toca lá fora e se diverte com o olhar perdido de quem o ouve.
Que parece ter sido escrito para ser ouvido assim, em silêncio, vagamente,
dolorido, uma paixão quase tranquila de quem clama por um socorro que nem sabe
se existe.
Compreendo o
meu silêncio feito das sombras que escolho para guarda-me dos olhares curiosos,
das sombras de tudo aquilo que faz parte de meu mundo, mas que fora dele não
são conhecidas.
Em alguns dias
o silêncio é mais do que necessário. É o elixir sagrado da paz. É a saída do
caos. É o afago na alma. O cuidado mais efetivo que podemos ter. É o cuidado de si precioso.
Tantos são os
dias em que o silêncio é o companheiro de luas, estrelas sem cintilantes, de
vãos que não se ocupam a não ser por ele, que tudo invade, que tudo completa,
que tudo abranda.
Eu conheço os
seus silêncios porque tenho os meus e não cobrarei palavra alguma das horas que
se perderam. Todo o tempo – perdido ou não – é construção, por mais que
castelos caiam e pontes desabem, o tempo constrói até as ruínas.
O não dito, às
vezes, revela mais do que o que foi dito. E é preciso atenção. É preciso ter um
ouvido atento para que escute os gritos que lanço em meus silêncios, porque é
através deles que me revelo.
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