Agora pega esse seu colo que, eu um dia foi só meu e que emprestei para
tantos outros que não souberam o que fazer com ele, e faze-o o seu ninho. Aconchega
nele não só sua cabeça, mas seus pensamentos, seus sonhos, tudo aquilo que
ainda quer fazer e não sabe por onde começar. Toma esse colo como seu porto
seguro, seu ponto de partida e de chegada. Faz dele a base para que possa sair,
se aventurar e ter pra onde voltar.
Agora toma essa mão que estava em desatino, pensando que vagava em
solidão e faz dela a sua companhia, seu fio condutor, seu apoio nas horas mais
frias, nas noites mais escuras. Toma dela todo o carinho que puder escapar
pelos dedos a enrolar em seus cabelos, a correr-lhe pelas costas largas e a
contornar seu rosto, como quem desenha uma moldura para uma tela de
encantamento.
Agora toma das palavras que só podem sair de sua boca e explica-me para
onde vamos. Diz-me que rumo tomaremos, ou faz melhor e brinda-me com suas
histórias que já me parecem tão minhas, por mais que sejam de um mundo
completamente alheio ao meu.
Agora ignora o tempo que corre lá fora, que faz com que o dia rompa a
barra da noite e que o sol brilhe por trás das nuvens e explica-me como foi que
nossos caminhos se cruzaram. Explica-me como minha estrada torta e sem sinais
me levou para você, atalho ou desvio, caminho ou descaminho, por onde meus pés
agora percorrem e se perdem em rastros de admiração tão sublime e repentina.
Diz-me em que lugar nossas almas já haviam se cruzado, porque nossos
olhos apenas se reconheceram e brilharam no meu sem fundo de anseios e receios.
Diz-me o porquê de eu achar que as letras de um livro, por mais distantes que
estejam, se embolam e se encontram quando a capa se fecha e por quê eu tenho a
certeza de que somos palavras de um mesmo livro.
Se puder, sem medo, revela-me como é essa magia de nos surpreendermos a
cada dia com o novo que nos parece já ser conhecido. Mostra-me como andar sem
temer o próximo passo, sem pensar no que estar por vir. Se puder, ensina-me a
andar simplesmente pelo prazer de se trocar os passos, sem esperar chegar, mas
tendo a certeza de que algo sempre está por vir.
(Et maintenant on va où? - E agora, onde estamos indo?)
1 Comentários:
INCRÍVEL! Esta me arrepiou: "... histórias que já me parecem tão minhas, por mais que sejam de um mundo completamente alheio ao meu". VOCÊ ARRASOU, DY!
Postar um comentário