Visitas da Dy

sábado, 22 de outubro de 2011

Noturno II



              Por muitas vezes ela olhava a lua nas noites quentes enquanto ele dormia pesadamente na cama, palco de seus momentos de cumplicidade.
Era uma “filha da noite”. Gostava de ficar acordada enquanto todos dormiam. Gostava do silêncio das madrugadas, o que parecia contraditório já que ela afirmava não gostar de silêncio e passava a maior parte do tempo ouvindo músicas ou cantando.
Gostava de ver o vazio das ruas, o voo de aves noturnas. Gostava de dar asas aos seus pensamentos e isso acontecia com mais freqüência nas noites, no escuro, naquele silêncio aveludado.
Naquela noite, ela parou para conversar com a lua. Revelou-lhe o medo que sentia de vê-lo partir um dia. Ninguém sabia ao certo, mas ela era insegura, pensava muito em várias possibilidades para cada situação, para saber como se comportar, justamente para esconder essa insegurança toda, para esconder a sua fragilidade. Às vezes, não raro, conseguia, mas por dentro ela tremia.
Lá no fundo de seu coração, olhando aquele corpo adormecido, ela sentia que o fim estava próximo, que aquela história tinha um prazo de validade.
No escuro ela se perguntava se de fato o amava. Apesar do tempo em que estavam juntos ela não sabia responder se era amor ou se era costume e começou a imaginar situações  para tentar entender o que se passava.
Aos poucos deixou de imaginar e se pôs a lembrar os momentos que passaram juntos, os sorrisos, as lágrimas e os abraços – ela adorava abraços!...
Voltou a olha-lo dormindo, relaxado, tranquilo, entregue aos sonhos, imerso nos lençóis e na noite que seguia lenta...
Num instante ela sorriu e percebeu que era mais um caso desses “amores passageiros”. Mais uma paixão que ela colecionaria. Olhou o rosto dele sereno na penumbra do quarto. Lentamente se vestiu, pegou a bolsa e foi para a porta. Antes de sair ela ainda escreveu um bilhete para ele: “mais um amor que virou bom dia...”. Deixou o papel sobre a mesa. Virou as costas e partiu, porque logo o sol romperia a barra da noite; porque algumas pessoas passam por nossas vidas só par deixarem uma saudade gostosa, para nos lembrarmos que existem momentos felizes. 
Partiu porque entendeu que a vida era curta demais para que ficasse ali, sem ser sinceramente feliz.
Ela saiu daquele quarto rumo à sua felicidade que só podia ser construída por ela mesma e que não seria ao lado dele.
             Ela partiu porque descobriu naquele momento que a felicidade é uma coisa na qual precisava correr atrás.
              

4 Comentários:

Anônimo disse...

Fantástico... sem comentários. bjs Z

Marcela disse...

Incrível e penetrante!!! Sou sensível de mais para essas coisas...rsrs quase chorei! essa história deveria virar livro para sabermos como termina!! BJS

Dy Eiterer disse...

Oi, Z!
sempre por aqui "curtindo"!

amiga querida, leitora fiel!

beijo cheio de carinho e saudade!

Dy Eiterer disse...

Oi, Marcela!
Como essa história termina?

ah, isso depende só de quem lê!

Acho que essa é a vantagem de a gente escrever e deixar uma porta se fechando atrás: temos muitos caminhos pra poder seguir.

E como é tudo nessa vida, só depende da gente...

beijo, moça!

Postar um comentário